São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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O PÚBLICO DA USP

As medidas tomadas pela Universidade de São Paulo (USP) para ampliar a proporção de alunos oriundos de escolas públicas em seu corpo discente não produziram os efeitos esperados. Apesar da criação da USP Leste, que oferece cursos com perfil mais voltado para o mercado de trabalho, e do maior número de isenções da taxa de inscrição no vestibular dadas aos estudantes mais pobres, o número de aprovados no concurso de 2006 que vieram da rede particular (73,2%) voltou a subir e foi o maior desde 2001.
Mesmo visto em perspectiva, o quadro não se alterou. Nesta década, a fatia das instituições privadas na USP nunca baixou dos 71,7%. Quando se consideram, porém, que foram feitas tentativas de "democratizar" a universidade, impõe-se a conclusão de que o problema está na qualidade do ensino das escolas públicas.
Apesar de todas as suas imperfeições, o vestibular avalia, ainda que palidamente, o conteúdo assimilado pelos alunos. E não há isenção de taxa ou reengenharia sociouniversitária capaz de substituir um bom ensino fundamental e médio.
Iniciativas como as apresentadas pela USP devem continuar e podem até ser ampliadas, como é o caso do recém-sugerido "cursinho" para os melhores alunos das públicas. São alternativas preferíveis às cotas raciais, que apenas buscam corrigir um erro, a discriminação racial, com a superposição de outro, a suspensão do sistema meritocrático.
As perversidades sociais existentes no Brasil e seu viés claramente racista constituem sem dúvida um desafio a ser vencido. Mas a resposta satisfatória a essa questão não está em medias "ad hoc", e sim numa política consistente de melhoria do ensino público, da pré-escola ao médio. O fundamental é que brasileiros de todas as cores e classes sociais, quer venham ou não a cursar uma universidade, tenham direito a uma educação de qualidade.


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