São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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MELCHIADES FILHO

Pane elétrica

BRASÍLIA - O estica-e-puxa em torno das nomeações para o setor elétrico não deve ser visto apenas como um evento do fisiologismo.
O Planalto já deixou claro que o catálogo apelidado de PAC é a prioridade do segundo mandato. Quase só tratou dele no discurso de abertura do ano legislativo -reforma política, tributária e outros "grandes temas" de suposto interesse do Executivo nem citados foram.
Na avaliação oficial, as obras do PAC ajudarão a agitar o mercado interno, a manter "otimista" a iniciativa privada e a imunizar a economia contra a incerteza global. De quebra, haverá o empurrãozinho eleitoral em outubro, uma vez que toda inauguração levará o carimbo do programa federal.
Esse roteiro, contudo, sofreu um revés em dezembro. Com a extinção da CPMF, o governo foi forçado a refazer os cálculos. Para preservar o PAC na íntegra, optou por congelar os demais investimentos.
A margem de manobra dos ministérios despencou da noite para o dia. Verbas de cada pasta foram contingenciadas -ou, se relativas a projetos do PAC, "confiscadas" pelo QG que gerencia o programa.
O poder de decidir os gastos -e, portanto, de fazer política por meio da administração pública- foi todo concentrado na Casa Civil.
Finalmente compreendeu-se o que a ministra Dilma Rousseff queria dizer com o conceito de "transversalidade": só ela manda pagar, Guido Mantega paga, e os colegas de governo bebem o cafezinho.
De mãos atadas, os ministros hoje enfrentam a fúria de seus próprios partidos. Márcio Fortes (Cidades) e Reinhold Stephanes (Agricultura), por exemplo, são execrados em público pelas bancadas do PP e do PMDB, respectivamente. Os mais adaptáveis e safos enxergaram uma saída. Aferram-se como podem aos cargos que ainda possuem alguma autonomia orçamentária. Petrobras, Eletrobrás, Furnas, Eletronorte, Eletrosul.


mfilho@folhasp.com.br

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