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ANTONIO DELFIM NETTO
Os bancos centrais
UM VELHO adágio militar adverte "que é na confusão
que morre gente". Nunca
ele foi tão útil como neste momento nebuloso que envolve a economia mundial.
Quem afirma alguma certeza é
desinformado. O que todos necessitamos é de um inexistente breviário que nos dê tranqüilidade para superar as interpretações catastróficas da realidade que nos assombra. Na sua ausência, tentar
entendê-la talvez ajude.
Os bancos centrais dos países
mais importantes do mundo vêm,
há anos, praticando uma oportunística política laxista, o que significa, na teologia moral, fugindo ao
seu dever... Fecharam os olhos às
formidáveis invenções da inteligência e da imaginação financeiras.
Foram aparentemente enganados
pela sofisticação "teórica" do controle de riscos. Mantendo baixa a
taxa de juro real e não sabendo como incorporar o controle da expansão dos preços dos ativos (inclusive imobiliários) nas suas formuletas, ajudaram a construir a
enorme pirâmide de crédito que financiou a expansão da economia
mundial e agora ameaça desabar,
com graves conseqüências para o
setor real da economia.
Esses acontecimentos reforçaram a intuição de alguns calejados
economistas: o sistema financeiro
deveria ser apenas um auxiliar da
economia real, que responde à preferência dos consumidores, ao
avanço tecnológico e à acumulação
do capital e gera o crescimento e
produz o emprego. O problema é
que ele tende a assumir vida própria e a influir poderosamente no
processo produtivo. Suas crises
freqüentemente acabam se transmitindo para a atividade real e para
o nível do PIB e do emprego. As
crenças: 1º) que existe uma "teoria
monetária científica" capaz de
prescrever uma política que estabiliza as expectativas inflacionárias
em níveis adequados e 2º) que se
dispõe de mecanismos gerenciais
capazes de controlar a tendência
do sistema financeiro de assumir
"vida própria", sustentam os "fundamentos" da completa autonomia
operacional que se concedeu aos
bancos centrais.
O mínimo que se pode dizer é
que cada vez mais crises financeiras "independentes" ameaçam o
funcionamento da economia real.
A conclusão é que os bancos centrais ainda não conseguiram entregar a sua mercadoria. Eles precisam aprender a subordinar o sistema financeiro aos interesses da
economia real ao mesmo tempo
em que cumprem a sua missão estabilizadora da inflação.
Há dificuldades com eles, mas
poderia ser pior sem eles.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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