São Paulo, quinta, 20 de março de 1997.

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MEIO PERÍODO PARA TODOS

``Meio Período para Todos'' é o nome de um dos livros do consultor francês Guy Aznar, especialista em reestruturação de empresas que se preparam para reduzir a jornada de trabalho de seus empregados.
O que parece uma proposta radical é na verdade uma avaliação da tendência mundial do mercado de trabalho: não há vagas para todos. Logo, elas devem ser compartilhadas.
O presidente Fernando Henrique Cardoso mostrou-se, a princípio, a favor da redução da jornada e a CUT vai anunciar proposta sobre o tema.
Mas a novidade do debate público brasileiro sobre o assunto faz com que se venha ressaltando o aspecto aparentemente simples, aritmético, da idéia: se todos trabalharem menos tempo, mais vagas serão criadas. Mas tal mágica pode não ocorrer.
O próprio Dieese observa que empresas que reduzem a jornada podem fazer um esforço para aumentar a produtividade. Isto é, os empresários compensariam o custo de manter a mesma folha salarial -com menos horas trabalhadas- exigindo maior eficiência dos empregados.
Se tal providência não desse resultados, haveria então mais contratações. De qualquer modo, o tempo de trabalho dos novos empregados não equivaleria às horas reduzidas.
É preciso salientar também que tal medida é paliativa, ainda que necessária. Os empregos continuarão a ser pulverizados pelo progresso tecnológico, que ocorre de maneira crescentemente acelerada.
Novos processos e equipamentos postos à disposição das empresas vão fazer com que diminua ainda mais a necessidade de mão-de-obra. Outras estratégias para a resolução do problema terão de ser pensadas.
Para que a redução da jornada seja levada à prática, trabalhadores, empresários e governo precisam discutir as diferentes realidades dos diversos setores da economia e definir quem paga os custos da iniciativa. Mas parece ainda distante o sonho de mais emprego e de ``meio período para todos''.

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