São Paulo, quinta, 20 de março de 1997.

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Quando os brancos sofrem

CLÓVIS ROSSI
Hamburgo - Os telejornais europeus estão carregados das deprimentes cenas de albaneses fugindo do país, no segundo grande êxodo de brancos na história recente, após a Bósnia.
Antes, os protagonistas eram africanos, cubanos, vietnamitas -enfim, a turma das bordas do mundo. Claro que a Albânia é também periferia, como país mais pobre da Europa. Mas é Europa (ainda).
Talvez tivessem fugido antes, se o Estado policial não fosse tão rígido. Mas não deixa de ser paradoxal que escapem agora que, supostamente, podem desfrutar das benesses do capitalismo.
Hoje, os telejornais virarão o foco para a cúpula entre os presidentes Bill Clinton e Bóris Ieltsin , na Finlândia, o que permite algum paralelismo. A transição para o capitalismo na Rússia é assim descrita por um jornal do coração do império, ``The New York Times'':
``O capitalismo não produziu nenhum grande `boom' industrial; o investimento estrangeiro continua decepcionante, especialmente quando comparado com o dinheiro que flui para uma China ainda nominalmente comunista; uma vulgar nova classe rica de criminosos e cleptocratas parece dominar um governo ainda feudal''.
Na essência, nada de muito diferente da Albânia, a não ser no ponto de partida (a Rússia nunca foi exatamente pobre). Talvez por isso, os telejornais ocidentais provavelmente jamais exibirão cenas de um êxodo desesperado dos russos.
Podem, entretanto, mostrar algo mais inquietante, se estiver certo Martin Wolf, comentarista de outro grande jornal do capitalismo, o britânico ``Financial Times''.
Ele vê três caminhos à frente para a Rússia: democratizar-se e virar uma ``dinâmica economia de mercado'', transformar-se num ``regime corporativo corrupto e despótico'' ou uma mistura dos dois, ``turbulenta ela própria e uma fonte de turbulência para outros (países)''.
A conferir.

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