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Porque termina em pizza
OTAVIO FRIAS FILHO
O ex-presidente Collor apareceu no
``Jornal Nacional'' para se defender
de novas acusações, que não param de
convergir sobre ele. É medida prudente, numa democracia, que os vilões
públicos tenham ampla oportunidade
de defesa. Collor exagerou e talvez só
por isso tenha recebido nada menos
que dez minutos na edição.
Tendo um mural psicodélico como
fundo, ele esbravejou, deu socos na
mesa, mostrou-se exausto com o que
considera uma perseguição, chegou a
acusar de má-fé a repórter, que resistiu bravamente e balbuciou as perguntas até o fim da pauta. Apoplético,
ele atropelou palavras, inventou outras, não estava em boa forma.
Repetiu seu argumento básico: foi
mais investigado do que ninguém e
mereceu a absolvição da Justiça. Para
muitas pessoas, nunca ficou claro que
o impeachment envolvia dois processos, um político e outro jurídico. Para
afastá-lo do cargo, bastava que a Câmara considerasse sua conduta incompatível com a função.
Para depô-lo em definitivo, que o
Senado confirmasse a Câmara. Mas
para condenar Collor pela prática de
crimes era preciso que comprovações
cabais convencessem os juízes, o que
não aconteceu, seja porque as evidências não eram suficientes, seja porque
as leis em vigor exigem das evidências
mais do que elas podem oferecer.
Fica a sensação de que os escândalos
nunca se resolvem, de que a impunidade é a regra, até mesmo a dúvida
mais improvável -e se Collor tivesse
razão?- não desaparece. O pior é que
esses casos, como agora no episódio
dos precatórios, revelam uma capilaridade técnica que a imprensa e o público seguem às tontas, até cansar.
Tanto melhor, claro, se houver punições. A melhoria da cultura política
depende em parte delas e o próprio
impeachment representou, como está
claro hoje, um salto enorme no desenvolvimento da democracia. Mas não
são apenas as ``apurações rigorosas''
que transmitem a impressão de
faz-de-conta.
Quem são os governantes que conseguem se eleger para um cargo majoritário sem burlar diversas leis? Afora
a corrupção por interesse pessoal, que
só pode ser reduzida mediante várias
investigações como a que está em curso, é o financiamento oculto das campanhas que quase sempre está por trás
dos escândalos.
O país passa por um surto capitalista, em última análise é ele o responsável pela pressão crescente sobre os
costumes políticos. ``Imoral'' em seus
propósitos e efeitos, o capitalismo é
``moral'' ao precisar de regras impessoais, claras e exequíveis para se expandir. A política das negociatas é cada vez mais uma pedra no caminho.
O acidente de Clinton faz lembrar
um comentário do linguista Noam
Chomsky durante sua visita, ano passado, ao Brasil. Em resposta a uma
longa questão em torno das chances
de se confirmar a visita do presidente
americano, Chomsky respondeu:
``São diretamente proporcionais à
qualidade dos campos de golfe que
vocês tiverem''.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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