São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Justiça sem medo
CLÁUDIO BALDINO MACIEL
A partir desse estudo, a magistratura apresentou ao Congresso proposta de alteração na lei penal, não somente incorporando na legislação dos crimes hediondos aqueles delitos graves praticados pelo chamado crime organizado, como estabelecendo especial aumento de pena para os delitos cujas vítimas sejam autoridades públicas que detenham funções de prevenção, combate e julgamento de crimes, bem como de fixação e execução de penas criminais. Somente um simplismo tacanho ou malicioso poderia supor que a norma proposta visa o tratamento de determinadas pessoas como privilegiadas. O escopo da norma não é a proteção maior a pessoas determinadas, mas a funções estatais de combate ao crime, para que se fortaleçam e ganhem em efetividade, pois, se os criminosos com facilidade atingirem os titulares de tais funções, já não haverá quem possa agir, nessa área sensível, com a almejada eficiência em defesa do agrupamento social. O benefício é, assim, direta e obviamente, de toda a sociedade brasileira. Embora perplexos e apreensivos com o brutal e covarde homicídio do colega, os magistrados brasileiros não se deixarão intimidar. Devem, em muitos casos, ter eficiente proteção pessoal e familiar para bem cumprir suas responsabilidades, mas seguirão todos a postos, com serenidade, cumprindo sua gravíssima missão constitucional de garantidores do Estado de Direito democrático e de última trincheira dos homens de bem contra a opressão e o crime. Tal é, além de sua missão constitucional, a homenagem mínima que podem fazer a um colega que tombou honrando a toga que envergava com orgulho, justiça e altivez. A valerem a intimidação, por um lado, ou o revanchismo, por outro, de uma ou de outra forma estará o Estado brasileiro perdendo definitivamente a guerra contra o crime e se demitindo de sua missão essencial de defesa da sociedade através da efetividade do direito e da lei. Começaremos a perder a guerra se formos contaminados pela mesma lógica do medo e da violência contra nós exercida, acreditando que tudo se resolve só com brutal repressão, ou se formos intimidados pela ousadia e violência da criminalidade. Venceremos se, com reflexão madura, não-emocional e comprometida com resultados efetivos, obtivermos a integração de todos os poderes da República para o enfrentamento objetivo, orgânico e eficiente da chaga do crime organizado, iniciando pelo combate sem trégua à corrupção, pela ocupação cidadã dos espaços públicos deixados à geografia da criminalidade e pela recuperação do espaço moral perdido para a cultura do individualismo e do egoísmo socialmente perverso. Cláudio Baldino Maciel, 47, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, é presidente da AMB. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Miguel Reale Júnior: Rigor e equilíbrio Índice |
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