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UM ANO DEPOIS
H á um ano, os Estados Unidos
deflagravam a guerra que depôs o ditador iraquiano Saddam
Hussein. Começava a ser posta em
prática em sua plenitude a Doutrina
Bush, gestada após o atentado do 11
de Setembro, que preconiza ataques
preventivos contra países potencialmente ameaçadores aos EUA ou que
apóiem grupos terroristas.
Passado um ano, sabe-se que Saddam Hussein não mantinha vínculos
com organizações terroristas e não
possuía as armas de destruição em
massa que Washington e Londres o
acusavam de ocultar. O que ainda
não se sabe é se os EUA e o Reino
Unido fabricaram o dossiê sobre as
supostas armas de boa ou de má-fé,
se induziram o mundo a erro apenas
por cegueira ideológica ou se agiram
fraudulentamente.
Às razões alegadas para a invasão
devem ser adicionadas outras, menos fantasiosas: o interesse americano de dispor de território para basear
forças na região, precipitado pelas
dificuldades de continuar com tropas na Arábia Saudita, e a importância para a potência ocidental de manter controle sobre reservas estratégicas de petróleo no Oriente Médio.
É difícil avaliar quais serão os desdobramentos futuros da invasão,
tanto do ponto de vista da população
iraquiana como do da segurança internacional. Até aqui, no entanto, o
saldo permanece negativo.
É claro que a queda de Saddam deve ser celebrada. Tratava-se de um ditador especialmente sanguinário.
Massacrou dezenas de milhares de
iraquianos -notadamente xiitas e
curdos- e empurrou seu país para
duas guerras insanas, uma contra o
Irã e outra contra o Kuait. O mundo
se tornou um lugar melhor sem Saddam Hussein à frente do Iraque.
Isso, contudo, não basta para apagar o fato de que o país está hoje à
beira de uma guerra civil e que se tornou, após a invasão, um grande centro do terrorismo mundial, além de
fonte permanente de instabilidade
para a região, já tão conturbada.
Quanto ao futuro do Iraque, ele
permanece uma incógnita. Se os
atuais conflitos não evoluírem para
uma guerra civil em larga escala, o
Iraque poderá acabar se estabilizando. É bastante duvidoso, porém, que
venha a se tornar em curto ou médio
prazo a democracia que os Estados
Unidos gostam de apregoar.
Mais importante, a bem-vinda deposição do ditador não esconde a
evidência de que Bush, para lançar-se em sua aventura, causou grandes
estragos ao incipiente e ainda frágil
multilateralismo internacional. Ele
desprezou aliados tão importantes
como a França e a Alemanha e se colocou contra a posição da ONU.
Não são desprezíveis, também, os
argumentos de que a escalada militar
produzida pela Guerra do Iraque é
um fator a animar jovens muçulmanos a cerrar fileiras com o terror. É
claro que é impossível mensurar objetivamente esse movimento, mas há
analistas que apontam as humilhações impostas aos muçulmanos pelos EUA no Iraque, ao lado da repressão israelense aos palestinos, como
motores do terrorismo islâmico.
É mais do que razoável, portanto,
afirmar que a resposta dada por
George W. Bush ao problema do terrorismo, na qual a invasão e a subseqüente ocupação do Iraque são peças-chave, continua se mostrando
equivocada. Os atentados de Madri,
na semana passada, mostram da forma mais sangrenta e abjeta possível
o quanto será necessário agir em
frentes não apenas militares para enfrentar essa chaga dos tempos modernos que é o terror.
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