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VAGAS ESTATIZADAS
Merece ser examinada com
atenção a proposta do ministro da Educação, Tarso Genro, de
criar vagas públicas em instituições
de ensino superior privadas. Em linhas gerais, a idéia é estender a todos
os estabelecimentos particulares os
incentivos fiscais e previdenciários
hoje concedidos às instituições filantrópicas. Em troca, as faculdades
destinariam pelo menos 25% de suas
vagas ao poder público.
A definição de quais alunos seriam
contemplados ficaria a cargo da universidade federal da região, que deverá aplicar o sistema de cotas. Genro
pretende criar 100 mil novos lugares
já neste ano, a um custo estimado em
R$ 350 milhões. A meta para cinco
anos é gerar 400 mil vagas.
A idéia é engenhosa e parece filosoficamente correta, mas não pode
passar sem algum questionamento.
A criação de uma vaga universitária
na rede privada se dá a um custo bem
menor do que no sistema público.
Mas é preciso ter claro que não se trata exatamente do mesmo "produto".
Faculdades privadas em geral se limitam a ensinar o aluno. Uma universidade pública faz bem mais do
que isso. Além do ensino, ela desenvolve atividades de pesquisa e extensão. Freqüentemente, conta com um
hospital universitário.
Nem os custos nem a formação
oferecida pela universidade pública
podem ser comparados aos de suas
congêneres particulares. A pesquisa
é uma atividade cara. Não é casual
que as escolas privadas praticamente
a ignorem. Cerca de 90% da ciência
brasileira é obra de instituições ligadas ao Estado. O desempenho das
faculdades públicas nas avaliações
do Provão é nitidamente superior ao
da média das particulares.
O Brasil, porém, é um país com
grande carência de pessoas com formação de terceiro grau. Infelizmente, não é possível estender a todos os
que desejem o acesso gratuito a cursos com o padrão de excelência das
universidades públicas. Faz sentido,
portanto, que o Estado fomente a
criação de mais vagas, ainda que recorrendo à renúncia fiscal.
O problema é que muitas das universidades federais estão literalmente caindo aos pedaços. Diante disso,
seria correto aplicar preciosos recursos destinados à educação superior
para outras finalidades que não a recuperação do patrimônio público?
Outra questão complexa é a que diz
respeito às escolas com fraco desempenho acadêmico. O correto seria fechá-las, para que não enganem o
consumidor e para que não ameacem a população. A proposta de Genro, se não forem estabelecidas certas cautelas, traz o risco de o Estado
aplicar dinheiro público em instituições que deveria lacrar. No mais, restam dúvidas sobre as garantias de
que os desvios hoje comuns no reino
das filantrópicas não se repetiriam
no novo sistema.
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