São Paulo, sábado, 20 de março de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Mutirão para superar a fome

Completam-se dois anos desde que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançou, em abril de 2002, a mobilização das comunidades cristãs e da sociedade brasileira para erradicar a miséria e a fome. O "Mutirão Nacional" ampliou-se com o programa governamental Fome Zero e outras múltiplas e beneméritas iniciativas. É preciso não esmorecer.
A fome e a miséria são conseqüência e parte integrante de um modelo de desenvolvimento que causa e mantém as desigualdades econômicas e sociais. Falta ainda a resposta consciente e decidida da sociedade na promoção do direito humano básico à alimentação nutritiva, por meio de políticas públicas adequadas. Está sempre em questão o respeito à dignidade da vida humana, dom de Deus e responsabilidade de todos nós. Temos que ser coerentes com critérios éticos que respeitem a precedência do bem comum sobre o privado e da defesa da vida sobre os interesses individuais, de modo a assegurar a todos o acesso ao alimento e aos bens essenciais.
Reuniu-se em Brasília (12 a 13 de março de 2004) a comissão da CNBB que coordena e anima o "Mutirão Nacional". Constatou-se o empenho nos projetos e ações que demonstram, em todo o país, a adesão das comunidades, a atuação e a parceria da sociedade civil, das Igrejas e de níveis do governo. Resta ainda muito por fazer.
Temos que continuar insistindo na força das exigências evangélicas e éticas para combater o escândalo da fome e da carência alimentar, que continua afligindo milhões de brasileiros. Há, no entanto, esperança no horizonte. Surgem sinais claros de uma cultura de solidariedade em que pessoas e grupos vão se dedicando, de boa vontade, a promover o alimento e a inclusão social dos desfavorecidos.
Para alcançarmos resultados mais consistentes na luta contra a fome, será necessário estabelecer o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, integrando as ações do governo e das entidades da sociedade, fixando metas e assegurando a todos o acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente.
O plano precisará solucionar o problema da má distribuição da terra, da concentração de riquezas e renda, da corrupção e da morosidade das atuações políticas, não raro obstaculizadas por acordos partidários que esmorecem a coragem das reformas.
Nestes dias, a atenção está voltada para Olinda (PE), onde se realiza, de 17 de março até hoje, a 2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. É um evento de grande importância, pois daí surgirão propostas ao presidente da República para o plano de 2004 a 2007.
A Comissão para o Mutirão Nacional da CNBB pôs em destaque duas sugestões para as comunidades: 1) aplicar em 2004 a coleta da Campanha da Fraternidade nos projetos, lançados pela Igreja, da construção de 1 milhão de cisternas, para facilitar a convivência com o semi-árido; 2) entre as políticas públicas, apoiar os projetos de agricultura familiar com assistência técnica e financiamento adequado.
Lembremo-nos de que, para combater a fome, é necessário erradicar o egoísmo e abrir-se à solidariedade fraterna. Só assim haverá pão para todos.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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