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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Mutirão para
superar a fome
Completam-se dois anos desde
que a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil lançou, em abril de
2002, a mobilização das comunidades
cristãs e da sociedade brasileira para
erradicar a miséria e a fome. O "Mutirão Nacional" ampliou-se com o programa governamental Fome Zero e
outras múltiplas e beneméritas iniciativas. É preciso não esmorecer.
A fome e a miséria são conseqüência
e parte integrante de um modelo de
desenvolvimento que causa e mantém
as desigualdades econômicas e sociais. Falta ainda a resposta consciente
e decidida da sociedade na promoção
do direito humano básico à alimentação nutritiva, por meio de políticas
públicas adequadas. Está sempre em
questão o respeito à dignidade da vida
humana, dom de Deus e responsabilidade de todos nós. Temos que ser coerentes com critérios éticos que respeitem a precedência do bem comum sobre o privado e da defesa da vida sobre
os interesses individuais, de modo a
assegurar a todos o acesso ao alimento
e aos bens essenciais.
Reuniu-se em Brasília (12 a 13 de
março de 2004) a comissão da CNBB
que coordena e anima o "Mutirão Nacional". Constatou-se o empenho nos
projetos e ações que demonstram, em
todo o país, a adesão das comunidades, a atuação e a parceria da sociedade civil, das Igrejas e de níveis do governo. Resta ainda muito por fazer.
Temos que continuar insistindo na
força das exigências evangélicas e éticas para combater o escândalo da fome e da carência alimentar, que continua afligindo milhões de brasileiros.
Há, no entanto, esperança no horizonte. Surgem sinais claros de uma
cultura de solidariedade em que pessoas e grupos vão se dedicando, de
boa vontade, a promover o alimento e
a inclusão social dos desfavorecidos.
Para alcançarmos resultados mais
consistentes na luta contra a fome, será necessário estabelecer o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, integrando as ações do governo e das entidades da sociedade, fixando metas e assegurando a todos o
acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente.
O plano precisará solucionar o problema da má distribuição da terra, da
concentração de riquezas e renda, da
corrupção e da morosidade das atuações políticas, não raro obstaculizadas
por acordos partidários que esmorecem a coragem das reformas.
Nestes dias, a atenção está voltada
para Olinda (PE), onde se realiza, de
17 de março até hoje, a 2ª Conferência
Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional. É um evento de grande
importância, pois daí surgirão propostas ao presidente da República para o plano de 2004 a 2007.
A Comissão para o Mutirão Nacional da CNBB pôs em destaque duas
sugestões para as comunidades: 1)
aplicar em 2004 a coleta da Campanha
da Fraternidade nos projetos, lançados pela Igreja, da construção de 1 milhão de cisternas, para facilitar a convivência com o semi-árido; 2) entre as
políticas públicas, apoiar os projetos
de agricultura familiar com assistência técnica e financiamento adequado.
Lembremo-nos de que, para combater a fome, é necessário erradicar o
egoísmo e abrir-se à solidariedade fraterna. Só assim haverá pão para todos.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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