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VINICIUS TORRES FREIRE
Homens novos, homens de barro
SÃO PAULO - "Amassar barro" e "comer poeira" são imagens prediletas
de Geraldo Alckmin. Estão em discursos solenes e nas entrevistas vulgares de todos os dias. São quase um
manifesto alckmista. Enaltecem o
universo de um como que caipira, de
poucas palavras, ativo, cônscio das
durezas e das necessidades práticas
da vida: amassar o barro para a casa
de taipa, comer poeira atrás do rebanho. O Homo faber alckminensis não
esconde um desprezo sutil pela vida
contemplativa, pela teoria.
Nisso tem algo de Lula. Num debate dos candidatos ao governo de São
Paulo, em 1982, perguntaram a Lula
se ele era socialista, trabalhista, marxista ou algo assim. Lula, seco: "Sou
torneiro mecânico". Foi um encanto,
na época. Uns acharam bom que o
sindicalista não fosse um comunista.
Outros viram nisso a autenticidade
de classe, a esperteza rude da vida
operária e outras pieguices. Ninguém
viu mesmo é que Lula, assim como o
parece Alckmin, era um cão sem plumas, um vazio de idéias.
Mas Alckmin e Lula são o futuro
sem ilusões do Brasil. Lula encarnou
de fato a classe operária e lhe deu poder. Seu governo é cheio de sindicalistas, a rude classe média baixa ou
classe baixa alta das fábricas e similares. Os intelectuais do petismo debandaram, foram marginalizados ou
pulverizados pela realidade da disputa política. Alckmin levaria a autêntica e em parte tosca e rica classe
média paulista, afora as agregadas,
ao poder. São os homens novos.
Os homens novos não participaram
da comunhão de altos executivos,
empresários pensantes e intelectuais
que era o PSDB dominante. São prefeitos, empresários e profissionais do
interior. São os paulistanos sem verniz de humanidades, profissionais liberais, profissionais práticos. Gente
que faz o mundo funcionar.
O embate entre Alckmin e Lula parece a pantomima brasileira do fim
das ideologias. Parece o desfile nu e
cru das classes, sem o enredo e as fantasias que intelectuais carnavalescos
lhes pespegavam. Falta agora o partido miserável das cidades, ora representado apenas por PCC, Comando
Vermelho e quejandos.
Mas o Brasil é isso aí.
@ - vinit@uol.com.br
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