São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Homens novos, homens de barro

SÃO PAULO - "Amassar barro" e "comer poeira" são imagens prediletas de Geraldo Alckmin. Estão em discursos solenes e nas entrevistas vulgares de todos os dias. São quase um manifesto alckmista. Enaltecem o universo de um como que caipira, de poucas palavras, ativo, cônscio das durezas e das necessidades práticas da vida: amassar o barro para a casa de taipa, comer poeira atrás do rebanho. O Homo faber alckminensis não esconde um desprezo sutil pela vida contemplativa, pela teoria.
Nisso tem algo de Lula. Num debate dos candidatos ao governo de São Paulo, em 1982, perguntaram a Lula se ele era socialista, trabalhista, marxista ou algo assim. Lula, seco: "Sou torneiro mecânico". Foi um encanto, na época. Uns acharam bom que o sindicalista não fosse um comunista. Outros viram nisso a autenticidade de classe, a esperteza rude da vida operária e outras pieguices. Ninguém viu mesmo é que Lula, assim como o parece Alckmin, era um cão sem plumas, um vazio de idéias.
Mas Alckmin e Lula são o futuro sem ilusões do Brasil. Lula encarnou de fato a classe operária e lhe deu poder. Seu governo é cheio de sindicalistas, a rude classe média baixa ou classe baixa alta das fábricas e similares. Os intelectuais do petismo debandaram, foram marginalizados ou pulverizados pela realidade da disputa política. Alckmin levaria a autêntica e em parte tosca e rica classe média paulista, afora as agregadas, ao poder. São os homens novos.
Os homens novos não participaram da comunhão de altos executivos, empresários pensantes e intelectuais que era o PSDB dominante. São prefeitos, empresários e profissionais do interior. São os paulistanos sem verniz de humanidades, profissionais liberais, profissionais práticos. Gente que faz o mundo funcionar.
O embate entre Alckmin e Lula parece a pantomima brasileira do fim das ideologias. Parece o desfile nu e cru das classes, sem o enredo e as fantasias que intelectuais carnavalescos lhes pespegavam. Falta agora o partido miserável das cidades, ora representado apenas por PCC, Comando Vermelho e quejandos.
Mas o Brasil é isso aí.


@ - vinit@uol.com.br


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