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CARLOS HEITOR CONY
Desculpando a Abin
RIO DE JANEIRO - Algum tempo
atrás, em comentário feito na rádio
CBN a respeito da Abin, citei como
exemplo das falhas daquele serviço
de informações oficiais do governo
a certidão solicitada por uma aluna
de curso de mestrado que fazia uma
tese sobre minha obra de escritor.
Entre as sandices arroladas (uma
conspiração para assassinar o marechal Castelo Branco no cemitério
São João Batista, em novembro de
1966), o documento garantia que eu
era proprietário de um hotel no Rio
Grande do Sul.
Recebi agora um ofício da própria
Abin fazendo referência ao meu comentário radiofônico, praticamente um pedido de desculpa, dizendo
que a informação estava errada, que
se tratava na certa de algum homônimo -argumento que não engoli
de todo.
Acho difícil que haja um homônimo por aí que seja dono de hotel. Se
se tratasse de um João de Souza ou
de um José da Silva (nada tenho
contra esses nomes, são exemplos
de homônimos possíveis), eu poderia aceitar a explicação.
De qualquer forma, achei bacana
o ofício que dava razão ao meu comentário. Também achei curioso
que a Abin estivesse na escuta do
programa que mantenho na CBN
com o Heródoto Barbeiro e o Arthur Xexéo. E que tenha tomado
providências e acertado o meu endereço, não enviando o ofício para
um homônimo acaso existente.
Eu vinha adiando uma crônica
sobre esse assunto, afinal, a aluna
que fazia o mestrado, de posse do
ofício da Abin, perguntou-me se eu
pretendia assassinar o presidente.
Não cheguei a tanto.
Em companhia de intelectuais e
de amigos, demos uma vaia em Sua
Excelência na porta do hotel Glória
-ficamos presos duas semanas
num quartel da PM. Foi a única intervenção física que fiz contra o regime militar. Minhas outras prisões
foram por delito de opinião.
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