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ELIANE CANTANHÊDE
Questão de limite
BRASÍLIA - Do presidente da República e comandante-em-chefe das
Forças Armadas para as próprias
Forças Armadas: "As suas legítimas
aspirações serão contempladas".
Essa promessa, feita ontem por Lula, não é apenas mais um capítulo da
novela sobre os soldos militares. É um
compromisso do presidente -direto,
público e a ser cobrado- com um
bom reajuste para oficiais e soldados
da Marinha, Exército e Aeronáutica,
sem aumento desde janeiro de 2001.
Até aqui, o ministro da Defesa age
diplomaticamente, ouvindo as queixas, visitando gabinetes da área econômica e alertando o próprio presidente para a insatisfação das casernas e de altas esferas militares. Nem
precisava. Bastava Lula ler, pela imprensa, as queixas dos três comandantes e as manifestações da reserva
e de familiares do pessoal da ativa.
Agora, todo mundo já falou. Uns
cobraram, outros negociaram, o ministro deu um "cala a boca" nos que
andavam falando demais e, por último, quem manda em todos fez a promessa. Tudo isso para dar no que já
era mais ou menos esperado: é provável que os militares tenham 10% neste ano, com a perspectiva de mais um
tanto em 2005, em parcelas.
Na onda, discute-se também a relação dos militares com a segurança
pública. Além da intenção crescente
de usar o Exército no Rio, há outra
discussão bem avançada: a criação
de uma espécie de Guarda Nacional,
reunindo polícias militares e civis sob
um comando federal. Para tratamentos de choque, claro.
As reações do governo a tantas
pressões -de militares, servidores
públicos, sem-terra e agentes da
PF- têm sido em etapas. Primeiro,
perplexo, quis mostrar que quer ser
"democrático", deixando a coisa rolar. Agora, está na fase de tentar ser
"firme", cobrando "responsabilidade" e avisando que "tudo tem limite".
A questão é essa: qual é esse limite?
Os manifestantes não sabem, o governo também não, e nós, que não temos nada a ver com isso, sabemos
menos ainda. Só assistimos, para
quer no que vai dar.
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