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AS INSINUAÇÕES DE LULA
"Não posso tirar ou pôr um
ministro em função desta
ou daquela manchete de jornal. (...)
Por enquanto, há muitas insinuações. Quem é político sabe o que significam insinuações. O "eu acho" e o
"eu penso" não adiantam. É preciso
que surjam coisas concretas".
Foi nestes termos que o presidente
da República fez, em discurso anteontem, a defesa pública do ministro da Previdência, Romero Jucá.
Diga-se logo: para dizer o que disse
Lula esperou tempo demais. O ministro está na berlinda, constrangido
a prestar esclarecimentos à opinião
pública há praticamente um mês,
desde que tomou posse, em 22 de
março. O escândalo das fazendas
inexistentes, apresentadas como garantia para empréstimo bancário a
uma empresa da qual Jucá era sócio,
apareceu em reportagem desta Folha
poucos dias depois.
Desde então, atividades suspeitas
envolvendo Jucá e sua mulher, Teresa Jucá, prefeita de Boa Vista, vêm se
multiplicando no noticiário, sem
que o ministro tenha encontrado respostas satisfatórias para todas elas.
Este jornal já defendeu, há uma semana, a saída de Jucá do governo.
Sua permanência no cargo tornou-se
insustentável. Faltam-lhe não apenas
condições para gerir qualquer reformulação da Previdência, mas também a imagem de decoro que se requer para o exercício de uma função
dessa responsabilidade.
Se o ministro deve satisfações de
seus atos aos órgãos competentes,
quem o nomeou e mantém é que deve explicações à sociedade. "Insinuações"? Como assim? Terá o presidente lido o que se publicou a respeito de seu ministro? Estará, ao menos,
sendo devidamente informado por
seus auxiliares? Sim ou não -a resposta soa grave em qualquer um dos
casos. A opção parece ser entre a
omissão e o cinismo.
Nos velhos tempos da oposição,
por muito menos Lula e o PT estariam na mídia escandalizados, a exigir providências em nome da moralidade pública. Mas, mesmo para um
governo que fez tábua rasa de suas
bandeiras históricas e que já sacrificou quase tudo em nome do realismo político, é preciso haver limites.
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