São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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AS INSINUAÇÕES DE LULA

"Não posso tirar ou pôr um ministro em função desta ou daquela manchete de jornal. (...) Por enquanto, há muitas insinuações. Quem é político sabe o que significam insinuações. O "eu acho" e o "eu penso" não adiantam. É preciso que surjam coisas concretas".
Foi nestes termos que o presidente da República fez, em discurso anteontem, a defesa pública do ministro da Previdência, Romero Jucá.
Diga-se logo: para dizer o que disse Lula esperou tempo demais. O ministro está na berlinda, constrangido a prestar esclarecimentos à opinião pública há praticamente um mês, desde que tomou posse, em 22 de março. O escândalo das fazendas inexistentes, apresentadas como garantia para empréstimo bancário a uma empresa da qual Jucá era sócio, apareceu em reportagem desta Folha poucos dias depois.
Desde então, atividades suspeitas envolvendo Jucá e sua mulher, Teresa Jucá, prefeita de Boa Vista, vêm se multiplicando no noticiário, sem que o ministro tenha encontrado respostas satisfatórias para todas elas.
Este jornal já defendeu, há uma semana, a saída de Jucá do governo. Sua permanência no cargo tornou-se insustentável. Faltam-lhe não apenas condições para gerir qualquer reformulação da Previdência, mas também a imagem de decoro que se requer para o exercício de uma função dessa responsabilidade.
Se o ministro deve satisfações de seus atos aos órgãos competentes, quem o nomeou e mantém é que deve explicações à sociedade. "Insinuações"? Como assim? Terá o presidente lido o que se publicou a respeito de seu ministro? Estará, ao menos, sendo devidamente informado por seus auxiliares? Sim ou não -a resposta soa grave em qualquer um dos casos. A opção parece ser entre a omissão e o cinismo.
Nos velhos tempos da oposição, por muito menos Lula e o PT estariam na mídia escandalizados, a exigir providências em nome da moralidade pública. Mas, mesmo para um governo que fez tábua rasa de suas bandeiras históricas e que já sacrificou quase tudo em nome do realismo político, é preciso haver limites.


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