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ELIANE CANTANHÊDE
"Silêncio passivo, conformado"
BRASÍLIA - O Brasil assistiu, horrorizado, a cada detalhe do assassinato de 32 estudantes e professores
de uma universidade americana
sem se dar conta de que todo santo
dia 130 pessoas são assassinadas e
outras 80 são vítimas do trânsito
aqui mesmo, nas nossas barbas e na
nossa vizinhança.
"Um Boeing cai todo dia no Brasil, e há um silêncio passivo, complacente, conformado, como se fosse uma inelutável praga divina", diz
o e-mail enviado por José Vicente
da Silva Filho, coronel da reserva da
PM de São Paulo, diretor-executivo
do Instituto Pró-Polícia e ex-secretário Nacional de Segurança Pública em 2002. (Como lembrança: na
queda do avião da Gol, em 2006,
morreram 154 pessoas.)
Pelos dados do ex-secretário, que
teve posições de destaque nos governos tucanos tanto em São Paulo
como em Brasília, o saldo estimado
do primeiro mandato de Lula é de
quase 200 mil assassinatos, 120 mil
mortes no trânsito, 10 milhões de
assaltos, 200 mil quilos de cocaína
despejados no mercado interno, 1,2
milhão de veículos furtados ou roubados e 50 mil roubos de cargas nas
estradas.
O Banco Mundial calcula que o
custo dessa violência no período
pode ter ficado em mais de R$ 700
bilhões, ou 10,5% do PIB. E, como
não há perigo de melhorar, como
diria um cáustico, esse "PAC do crime" já está assegurado até o final do
segundo mandato, com uma previsão de mais 300 mil brasileiros
mortos violentamente. Governos e
polícias parecem desnorteados.
Como boa ressalva, apesar do viés
e dos laços tucanos, o ex-secretário
admitiu o óbvio: que FHC "deveria
ter investido mais cedo e mais tudo
na segurança pública". Mas o governo petista foi na onda e não fica
nem um pouco atrás. Segundo José
Vicente, Lula poderá vangloriar-se
ao final de oito anos que "nunca antes", em nenhum outro país, se matou tantos cidadãos como no Brasil.
Deve ser a tal "praga divina".
elianec@uol.com.br
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