São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

"Silêncio passivo, conformado"

BRASÍLIA - O Brasil assistiu, horrorizado, a cada detalhe do assassinato de 32 estudantes e professores de uma universidade americana sem se dar conta de que todo santo dia 130 pessoas são assassinadas e outras 80 são vítimas do trânsito aqui mesmo, nas nossas barbas e na nossa vizinhança.
"Um Boeing cai todo dia no Brasil, e há um silêncio passivo, complacente, conformado, como se fosse uma inelutável praga divina", diz o e-mail enviado por José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da PM de São Paulo, diretor-executivo do Instituto Pró-Polícia e ex-secretário Nacional de Segurança Pública em 2002. (Como lembrança: na queda do avião da Gol, em 2006, morreram 154 pessoas.) Pelos dados do ex-secretário, que teve posições de destaque nos governos tucanos tanto em São Paulo como em Brasília, o saldo estimado do primeiro mandato de Lula é de quase 200 mil assassinatos, 120 mil mortes no trânsito, 10 milhões de assaltos, 200 mil quilos de cocaína despejados no mercado interno, 1,2 milhão de veículos furtados ou roubados e 50 mil roubos de cargas nas estradas.
O Banco Mundial calcula que o custo dessa violência no período pode ter ficado em mais de R$ 700 bilhões, ou 10,5% do PIB. E, como não há perigo de melhorar, como diria um cáustico, esse "PAC do crime" já está assegurado até o final do segundo mandato, com uma previsão de mais 300 mil brasileiros mortos violentamente. Governos e polícias parecem desnorteados.
Como boa ressalva, apesar do viés e dos laços tucanos, o ex-secretário admitiu o óbvio: que FHC "deveria ter investido mais cedo e mais tudo na segurança pública". Mas o governo petista foi na onda e não fica nem um pouco atrás. Segundo José Vicente, Lula poderá vangloriar-se ao final de oito anos que "nunca antes", em nenhum outro país, se matou tantos cidadãos como no Brasil. Deve ser a tal "praga divina".


elianec@uol.com.br

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