São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O silêncio dos intelectuais, bis

PARIS - Lembra-se da polêmica do ano passado, no Brasil, sobre o "silêncio dos intelectuais"? Pois é, está em cartaz de novo, agora na França, a ponto de ganhar capa da edição de ontem do conservador "Le Figaro".
Mas, ao contrário do Brasil, em que a maioria dos intelectuais preferiu refugiar-se no silêncio e até na indignação contra os que lhes faziam perguntas, aqui o debate prospera. É justo que seja assim. Afinal, como diz o editorial do "Figaro", "a torre de marfim [em que, cá como aí, se refugiam os intelectuais] não se concebe sem que esteja equipada de portas e janelas abertas para o mundo".
O debate ganhou até conselho de um dos raros intelectuais que foi ao cume na política (não, FHC, não é você, não), o ex-presidente tcheco Vaclav Havel, que sugere "desconfiar de dois excessos: a indiferença e o excesso de engajamento".
Mas o melhor do debate é o texto do notável intelectual Max Gallo, porque certamente um número importante de similares brasileiros (e outras personalidades que transitaram pela política) se identificará com o seu percurso.
Comunista na juventude, desiludiu-se assim que tomou conhecimento da história do partido. Desilusão que é "conseqüência do conhecimento. O totalitarismo não funciona senão graças à ignorância e ao medo" (bela frase, não?).
Social-democrata depois, serviu ao governo socialista de Pierre Mauroy, no início dos anos 80. Descobriu então o abismo "entre as promessas e os atos" (alô, Oded Grajew e frei Betto) e tomou consciência "da complexidade da ação política. É preciso ganhar a eleição e depois agarrar-se ao poder".
Pois é. Por mais que as desilusões, aqui e aí, expliquem o silêncio de intelectuais, não o justificam. Pois, voltando ao editorial do "Figaro", "só os intelectuais podem se dar ao luxo da lentidão, da especulação, da dúvida metódica para desfazer um a um os nós da realidade".


crossi@uol.com.br

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