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CLÓVIS ROSSI
O silêncio dos intelectuais, bis
PARIS - Lembra-se da polêmica do
ano passado, no Brasil, sobre o "silêncio dos intelectuais"? Pois é, está
em cartaz de novo, agora na França,
a ponto de ganhar capa da edição de
ontem do conservador "Le Figaro".
Mas, ao contrário do Brasil, em
que a maioria dos intelectuais preferiu refugiar-se no silêncio e até na
indignação contra os que lhes faziam perguntas, aqui o debate prospera. É justo que seja assim. Afinal,
como diz o editorial do "Figaro", "a
torre de marfim [em que, cá como
aí, se refugiam os intelectuais] não
se concebe sem que esteja equipada
de portas e janelas abertas para o
mundo".
O debate ganhou até conselho de
um dos raros intelectuais que foi ao
cume na política (não, FHC, não é
você, não), o ex-presidente tcheco
Vaclav Havel, que sugere "desconfiar de dois excessos: a indiferença e
o excesso de engajamento".
Mas o melhor do debate é o texto
do notável intelectual Max Gallo,
porque certamente um número importante de similares brasileiros (e
outras personalidades que transitaram pela política) se identificará
com o seu percurso.
Comunista na juventude, desiludiu-se assim que tomou conhecimento da história do partido. Desilusão que é "conseqüência do conhecimento. O totalitarismo não
funciona senão graças à ignorância
e ao medo" (bela frase, não?).
Social-democrata depois, serviu
ao governo socialista de Pierre
Mauroy, no início dos anos 80. Descobriu então o abismo "entre as
promessas e os atos" (alô, Oded
Grajew e frei Betto) e tomou consciência "da complexidade da ação
política. É preciso ganhar a eleição e
depois agarrar-se ao poder".
Pois é. Por mais que as desilusões,
aqui e aí, expliquem o silêncio de intelectuais, não o justificam. Pois,
voltando ao editorial do "Figaro",
"só os intelectuais podem se dar ao
luxo da lentidão, da especulação, da
dúvida metódica para desfazer um
a um os nós da realidade".
crossi@uol.com.br
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