São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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MUITA CAUTELA

Foi na direção errada a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de manter inalterada a taxa básica de juros em 16% ao ano. Era perfeitamente possível -e desejável- uma sinalização de queda. Uma redução contida, nos moldes das duas últimas, de 0,25 ponto percentual, não representaria uma mudança substancial no ainda elevadíssimo patamar dos juros, mas evitaria sancionar o movimento pessimista que ronda os mercados financeiros.
Não fosse a volatilidade atual, pelo principal parâmetro da autoridade monetária, que é o comportamento da inflação, haveria plenas condições para um corte ainda maior. Afinal, nos 12 meses findos em abril, pela primeira vez o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no qual se baseiam as metas perseguidas pelo BC, ficou abaixo do objetivo estabelecido para este ano, de 5,5%.
Embora o ambiente econômico-financeiro passe por turbulências, não parece ter se configurado um quadro que exigisse tamanha cautela. A elevação dos juros nos EUA é um fato esperado, apenas aguardando data para consumar-se -embora os mercados, como fazem muitas vezes, tendam a exagerar suas conseqüências. Quanto à alta da cotação do petróleo, tudo indica que exigirá, sim, correção dos preços internos, mesmo porque já se encontravam defasados. É preciso, no entanto, para uma melhor avaliação, esperar o anúncio, previsto para a próxima segunda-feira, do provável aumento da oferta pelos países produtores. Independentemente disso, os efeitos de uma alta dos combustíveis poderiam ser administrados e acomodados sem risco de disparada da inflação. Seu impacto inflacionário seria fruto de um "choque de oferta", para o qual o próprio BC, em ata recente do Copom, não recomendava o uso dos juros como a terapia mais adequada.
Um corte, ainda que de 0,25 ponto percentual, muitos acreditam, teria sido prudente o bastante, com a vantagem de não derrubar, mais uma vez, as expectativas de recuperação da atividade econômica.


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