São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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LULA FALA, PALOCCI CORTA

Desde que, no final de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que iria anunciar novidades em relação ao imposto de renda da pessoa física (IRPF), criou-se uma novela em torno do tema.
Hoje, pessoas físicas que ganham menos de R$ 1.058 por mês são isentas. Os que ganham mais de R$ 1.058 pagam 15% de imposto. A partir de R$ 2.115, o rendimento está submetido a uma alíquota de 27,5%. Com a correção dessas faixas de renda pela inflação, aumentaria o número de isentos e parte dos que pagam hoje 27,5% voltaria à faixa de 15%. Desde 1996 houve apenas uma correção da tabela, em 2002, de 17,5%.
Depois das palavras do presidente, o ministro Antonio Palocci, que se sabia contrário à proposta, até marcou data para a boa nova: primeiro de junho. No entanto, quando um desfecho "feliz" parecia aproximar-se, a novela sofreu uma reviravolta. Anteontem, Palocci afirmou que a correção é impossível, por não constar do Orçamento. Ou seja, o presidente sugeriu algo que não poderia ser cumprido -ou que sua equipe não tinha a intenção de cumprir.
O pronunciamento de Palocci, porém, não encerra o caso, já que ontem a Comissão de Finanças da Câmara aprovou, com votos contrários de deputados petistas, projeto que propõe corrigir a tabela em 56% -ou seja, a inflação desde 1996, descontada a correção de 17,5% de 2002. Com isso, a Receita estima que a futura perda de arrecadação ficaria em torno de R$ 10 bilhões ao ano. Uma alternativa aventada na Câmara seria fixar a faixa de renda dos isentos na média dos últimos dez anos, o que exigiria elevá-lo em 22,9%.
Compreendem-se as urgências fiscais do governo, mas não é aceitável que a sociedade continue a ser onerada com uma tributação crescente, além de distorcida. Já se tornou ocioso cobrar do PT alguma coerência com posições assumidas no passado, mas é de esperar que o governo exponha à sociedade a sua proposta -se é que a tem- para sanar as escandalosas e regressivas iniqüidades do Imposto de Renda.


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