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Espuma tributária
Ao sugerir recriar CPMF, governo Lula dá nova mostra de sua carência
de planos, compromissos
e articulação política
HAVERIA um modo simples de o governo lidar
com o mais novo ato
de demagogia e irresponsabilidade fiscal oriundo do
Congresso. Bastaria o presidente
Lula deixar claro que vetaria o
projeto prevendo alta progressiva nas despesas com a Saúde.
Mas, por medo do desgaste, o
Planalto optou pela via tortuosa,
cogitou ressuscitar a CPMF e
forneceu mais combustível ao
tema do que ele merecia -era
para ser apenas uma farsa populista armada por parlamentares
do governo e da oposição, com
validade limitada ao período de
campanhas municipais.
Só pode ser encarada como encenação eleitoreira a aprovação
de um texto que obriga o governo
a aumentar a parcela de sua receita bruta destinada à saúde, até
chegar a 10% em 2011. Votada no
Senado em abril com apoio entusiasmado da oposição tucano-demista, o projeto do petista
Tião Viana (AC) não se preocupa, evidentemente, em apontar a
origem dos cerca de R$ 25 bilhões em despesas que cria.
Para confirmar que o espírito
da farra fiscal encarnou nos senadores naquela sessão, na ocasião foi extinto o fator previdenciário -ponto central da Reforma da Previdência da gestão
FHC. Também foi estendida a
todos os pensionistas do INSS a
política de aumentos especiais
reservada ao salário mínimo.
Com a Câmara propensa a endossar o cheque sem fundo que o
Senado repassou à Saúde, o governo insuflou a idéia de recriar a
CPMF. Talvez quisesse dissuadir
os deputados de aprovarem a
medida, atrelando-a a uma ação
impopular. Talvez ensaiasse o
popular "se colar, colou", pois a
gestão Lula é parecida com a de
FHC também na compulsão para avançar no bolso do contribuinte, atenuada apenas sob forte oposição da sociedade.
São, de resto, desgastantes,
inúteis e amiúde fadados ao fracasso os exercícios hermenêuticos acerca de complexas maquinações estratégicas do governo.
Idéias frágeis como a de recriar a
CPMF quase sempre são resultantes de um entrechoque caótico de ações individuais de assessores. Constituem sintoma da
carência crônica de planos, compromissos e articulação política
no Palácio do Planalto.
Tamanha fragilidade ficou
mais uma vez demonstrada ontem, quando o governo anunciou
que não apresentará projeto para relançar o imposto do cheque.
Deixou no ar a sugestão de que o
Congresso o faça, algo improvável de acontecer a qualquer tempo, mais ainda em ano eleitoral.
Se estivesse preocupada em investir mais na Saúde, a gestão
Lula não teria comprometido R$
15 bilhões anuais em gastos permanentes com reajustes salariais de várias categorias de servidores. Caso houvesse compromisso com a melhoria da gestão
na área, o projeto permitindo
que fundações de direito privado
administrem hospitais públicos
já teria sido aprovado.
Lula, contudo, não quer indispor-se com ninguém. Nem com o
funcionalismo, nem com o corporativismo sindical, nem com
os eleitores, nem com a opinião
pública. Seria demais esperar
que algo, além de inércia, resultasse desse estilo de governar.
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