São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O papel das armas

SÃO PAULO - O presidente peruano Alan García propôs, durante a recém-realizada Cúpula de Lima, que os países latino-americanos proibissem a compra e a venda de armas. Refere-se, é claro, a equipamentos militares.
A delegação brasileira recebeu a idéia com mau humor, mas a proposta é corretíssima, ainda que jamais venha a ser aplicada. Correta porque, se se compram armas para confrontos entre vizinhos, é um crime imperdoável. A América Latina precisa de integração, não de conflitos.
Se for o caso de comprar armas para enfrentar exércitos extra-sub-continente, a quantidade de recursos necessários está completamente fora do alcance até dos mais ricos países da região.
É escandalosamente óbvio que há pelo menos mil prioridades à frente do armamentismo. Mas a proposta é inaplicável, porque os países latino-americanos ainda não resolveram o dilema existencial de suas Forças Armadas. De um lado, perderam, em quase todos os países, o "inimigo interno" (o supostamente onipresente comunismo internacional), que serviu de pretexto para ditaduras e repressões selvagens.
O inimigo externo, por sua vez, ou é o vizinho, com o qual ninguém em seu juízo perfeito imagina um conflito armado, ou são exércitos de países mais distantes, imensamente superiores em armamento e tecnologia, o que torna qualquer conflito um autêntico suicídio.
Basta lembrar o massacre que foi a guerra da Argentina contra o Reino Unido pelas Malvinas, em 1982.
Nesse cenário, outra boa proposta é a do futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de usar as Forças Armadas para proteger a Amazônia. Faz mais sentido, por exemplo, do que manter uma imensa sede para o 6º Distrito Naval na Vila Mariana, em São Paulo, a 60 quilômetros do mar. Marinha longe do mar faz sentido?


crossi@uol.com.br

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