|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O papel das armas
SÃO PAULO - O presidente peruano Alan García propôs, durante a
recém-realizada Cúpula de Lima,
que os países latino-americanos
proibissem a compra e a venda de
armas. Refere-se, é claro, a equipamentos militares.
A delegação brasileira recebeu a
idéia com mau humor, mas a proposta é corretíssima, ainda que jamais venha a ser aplicada.
Correta porque, se se compram
armas para confrontos entre vizinhos, é um crime imperdoável. A
América Latina precisa de integração, não de conflitos.
Se for o caso de comprar armas
para enfrentar exércitos extra-sub-continente, a quantidade de recursos necessários está completamente fora do alcance até dos mais ricos
países da região.
É escandalosamente óbvio que
há pelo menos mil prioridades à
frente do armamentismo.
Mas a proposta é inaplicável, porque os países latino-americanos
ainda não resolveram o dilema existencial de suas Forças Armadas. De
um lado, perderam, em quase todos
os países, o "inimigo interno" (o supostamente onipresente comunismo internacional), que serviu de
pretexto para ditaduras e repressões selvagens.
O inimigo externo, por sua vez,
ou é o vizinho, com o qual ninguém
em seu juízo perfeito imagina um
conflito armado, ou são exércitos
de países mais distantes, imensamente superiores em armamento e
tecnologia, o que torna qualquer
conflito um autêntico suicídio.
Basta lembrar o massacre que foi
a guerra da Argentina contra o Reino Unido pelas Malvinas, em 1982.
Nesse cenário, outra boa proposta é a do futuro ministro do Meio
Ambiente, Carlos Minc, de usar as
Forças Armadas para proteger a
Amazônia. Faz mais sentido, por
exemplo, do que manter uma imensa sede para o 6º Distrito Naval na
Vila Mariana, em São Paulo, a 60
quilômetros do mar. Marinha longe
do mar faz sentido?
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Missão cumprida
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Calamidade Índice
|