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Editoriais
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Jogo de cena
Sobra cinismo em ataque do governo Lula à CPI da Petrobras, inquérito que não desperta grande expectativa de resultado
A CPI prejudicará a imagem do Brasil no exterior; o Congresso não é
delegacia de polícia; a
celeuma vai paralisar o Legislativo e abalar a economia; a iniciativa não passa de manobra eleitoreira da oposição. Com tais gritos
de guerra, a tropa de elite do Planalto combateu -e derrotou- a
proposta de criar a então apelidada CPI da Corrupção. Era
março de 2001, e o presidente,
Fernando Henrique Cardoso.
Num fato que já se tornou tedioso constatar, os anos se passaram, a oposição chegou ao poder,
e os papéis se inverteram. Agora
são os petistas que invocam os
sagrados valores da pátria e da
estabilidade econômica na tentativa de sabotar a CPI da Petrobras. Os tucanos encenam o clássico jogo da oposição, mais interessada em desgastar o governo
que em conhecer a verdade.
Na reedição da trama, embora
as trupes tenham mudado de lado, o cinismo dos atores que interpretam o governo permanece.
Não conseguem convencer o público de que acreditam no que dizem. É difícil, reconheça-se, emprestar credibilidade a falas como "Abrir CPI contra a Petrobras é abrir CPI contra o Brasil".
Nenhuma empresa que atue
no Brasil, quanto menos uma estatal da importância da Petrobras, está imune a investigação
parlamentar. A abertura de um
inquérito no Congresso pode até
prejudicar negócios da companhia, no curto prazo, mas isso
não é razão suficiente para abortar uma investigação. Não é admissível manter indícios de má
gestão sob o manto do segredo.
O problema com a CPI da Petrobras é que ela oferece, já na
saída, escassas perspectivas de
que algo relevante venha a ser esclarecido. Nem se fale, aqui, do
peso descomunal do governismo
na comissão, o que tende a barrar
no nascedouro iniciativas consideradas inconvenientes à direção da empresa e ao Planalto.
Em vez de escolher um foco, a
investigação pretende abraçar
vários temas complexos ao mesmo tempo. A CPI se propõe a
apurar suspeitas de irregularidades que vão dos patrocínios culturais da estatal, passam pelos
indícios de irregularidade nas
obras de uma refinaria em Pernambuco e pelas polêmicas manobras contábeis e chegam às
denúncias de fraude em pagamentos de royalties.
Além disso, outro roteiro batido de CPIs, o que evita emoções
fortes e deságua em inquéritos
inconclusivos, se insinua neste
caso. Tentáculos dos negócios bilionários da estatal e de seus fornecedores chegam a praticamente todos os Estados -negócios e contratos que muitas vezes
beneficiam interesses próximos
ao de senadores, do governo e da
oposição. Esse fenômeno tende a
amaciar ainda mais o ímpeto investigativo da comissão.
O acaso, decerto, pode pregar
peças. Mesmo com vários fatores
a sugerir ceticismo quanto aos
resultados do inquérito, continua valendo a máxima de que se
sabe como uma CPI começa, mas
não como termina.
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