São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2000


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SETORIAL DEMAIS

Desde a desvalorização do real, o ajuste das contas externas por meio da obtenção de superávits comerciais passou a ser um dos principais objetivos de médio e longo prazo da política econômica.
Assim, o Ministério do Desenvolvimento e o BNDES começaram a empreender mais ações de política industrial e promoção de exportações. Os Fóruns de Competitividade, bem como a recente mudança do BNDES, passando a financiar projetos afins ao comércio externo, são exemplos desse novo comportamento.
Desse modo, após encaminhar o processo de descruzamento acionário entre a CSN e a Vale do Rio Doce, o governo parece direcionar esforços para tentar garantir a um grupo nacional a vitória no leilão de empresas do pólo petroquímico de Camaçari.
Funcionários do governo argumentam que multinacionais estariam interessadas em produzir basicamente para o mercado interno, enquanto grupos nacionais pretenderiam buscar atuação mais voltada para a venda externa, o que contribuiria para obter superávits comerciais.
Historicamente, as multinacionais vieram se instalar no país para atender ao mercado interno, recorrendo às exportações em períodos de recessão interna ou para complementar a utilização da capacidade instalada
É lamentável, no entanto, que boa parte desses esforços do governo esteja direcionada para solucionar problemas que poderiam ter sido resolvidos nas privatizações ou que foram até mesmo criados por elas.
Na raiz da questão da petroquímica, tal qual na da siderurgia, está um excessivo fracionamento de participações acionárias emergido das privatizações. Pretendendo obter maiores receitas e vender mais rapidamente, o governo efetuou, nos últimos dez anos, privatizações que não se preocuparam com um modelo setorial de desenvolvimento a seguir.
Agora, o governo federal tenta corrigir esses erros. Mas a questão fundamental é saber se o governo está disposto a fomentar de maneira sistemática setores potencialmente dinâmicos da economia a ponto de flexibilizar em alguma medida sua política na esfera macroeconômica. Pois, de fato, fatores como juros altos e tributação inadequada são sérios limites para qualquer política industrial que se queira efetiva.


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