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CARLOS HEITOR CONY
Imagens do nosso tempo
RIO DE JANEIRO - Nos últimos dias, o problema da violência foi tema principal de mídia, nobreza, clero e povo.
Daí me veio a vontade de lembrar
três imagens de não-violência, imagens de nosso tempo, de três líderes de
nacionalidades e religiões diferentes.
A primeira delas, em ordem cronológica, seria a de Gandhi, que lutou
pela causa da independência do seu
país. Recusou e condenou a violência
sob qualquer forma. Quando milhões
de indianos, sob sua inspiração e comando, andaram léguas em busca
do mar a fim de extrair o sal que o colonizador inglês lhes negava, Gandhi
dava um exemplo ideológico e pragmático de como se podia lutar contra
a opressão sem oprimir o inimigo.
Outro exemplo com o mesmo sentido foi dado por Martin Luther King.
Enquanto as minorias negras nos Estados Unidos se dividiam entre a submissão humilhante, do tipo Cabana
do Pai Tomás, e a guerrilha valendo
tudo contra a discriminação racial, o
pastor dos pastores conseguiu, com o
poder, a magia de sua palavra, de seu
carisma pessoal, impor a não-violência contra a violência. Tombou assassinado, mas a sociedade americana
foi obrigada a reconhecer os direitos
civis dos negros.
O último exemplo, mais pessoal, foi
o de João Paulo 2º, indo visitar na
prisão o turco que quase o matou. A
foto do encontro é comovente. O papa, ícone branco, ainda sem os estragos do tempo que tanto o mutilaram,
abraça o homem que atirou contra
ele. O turco não o matou, é certo, mas
dividiu dramaticamente em duas a
vida do papa. Após o atentado, a saúde de Karol Wojtyla entrou em dramático declínio, com uma sucessão
de quedas, cirurgias e doenças.
Gandhi, Martin Luther King e João
Paulo 2º são exemplos de não-violência num tempo em que a violência,
na medida em que é tão exaltada,
tanto nos maltrata e causa novas vítimas.
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