São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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DENGUE EM INGLÊS

Com a aproximação do inverno, as temperaturas e as chuvas diminuíram, o fluxo de mosquitos se reduziu e, na maioria das cidades brasileiras, caíram os casos de dengue. Mas o triunfo sobre a doença é ilusório. Assim que o calor e as águas retornarem, a moléstia deverá ressurgir, e com maior gravidade.
Teoricamente, cada novo surto deixa um contingente cada vez maior de pessoas predispostas a desenvolver a forma hemorrágica da doença, que é mais grave e pode tornar-se fatal se não tratada a tempo. Nada disso é novidade. Os mecanismos de transmissão da dengue são conhecidos dos epidemiologistas há décadas.
O mais recente número da revista norte-americana "Newsweek" traz longa reportagem sobre a ressurgência da dengue em que faz essas entre muitas outras observações. A matéria, que foi capa da edição latino-americana da publicação, não poupa críticas às autoridades sanitárias brasileiras. A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) não gostou e divulgou nota à imprensa em que procura rebater as acusações da revista.
A reportagem, assinada por Marc Margolis, é essencialmente correta. Comete, é verdade, uma imprecisão. Fala em "erradicação" do mosquito transmissor da dengue. Mas, salvo melhor juízo, o faz como sinônimo de "controle de infestação". Em nenhum momento ele sugere que será possível destruir até o último representante do Aedes aegypti. É um detalhe que não chega a comprometer o texto. A própria Funasa fala, em seu site, em "eliminar focos do Aedes".
As autoridades sanitárias brasileiras colecionam sucessos. O combate à Aids e a campanha de vacinação contra gripe estão entre eles, como, aliás, reconhece a reportagem da "Newsweek". Mas é lamentável insinuar que o país se saiu bem diante da epidemia de dengue com um saldo de 500 mil pessoas infectadas. A Funasa faria melhor se, em vez de aferrar-se a detalhes semânticos, tomasse providências para que o próximo verão seja menos dramático.


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