São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O déficit e a pedra

SÃO PAULO - O compromisso com um dado número para o déficit público "não é de pedra".
Quem disse essa frase, que a sabedoria convencional dos mercados e da equipe econômica atual não hesitaria em classificar de blasfêmia? Foi Luiz Inácio Lula da Silva? Guido Mantega? O Garotinho?
Não, a frase é de Francis Mer, ministro de Finanças da França, país governado pelo que lá se chama de direita (mas que, se fosse nos tristes trópicos, bem que poderia ser de extrema esquerda).
Tem mais. Nicole Fontaine, ministra da Indústria do mesmo governo conservador francês, diz que seu pessoal pretende "reinterpretar inteligentemente" o Pacto de Estabilidade e Crescimento, o acordo que estabeleceu as regras orçamentárias para os países que iriam compartilhar o euro, a moeda única hoje válida para 12 dos 15 países europeus.
O déficit tolerado é de 3% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção de bens de uma economia), mas a intenção é reduzi-lo a zero até o ano de 2004.
O governo francês, no entanto, vai mais ou menos pelo mesmo caminho do PT brasileiro: Fontaine diz que o pacto de estabilidade deveria pôr no crescimento a mesma ênfase que põe na disciplina fiscal.
Não é parecido com a idéia de Mantega de colocar, lado a lado, metas sociais com metas inflacionárias, a nova vaca sagrada?
Tudo bem que a França é rica e, por extensão, lá os franceses também votam, diferentemente do Brasil, onde os mercados decidem o que é melhor para os eleitores.
Mas, assim mesmo, fica claro que uma coisa é o bom senso de pretender que o governo não gaste mais do que arrecada. Outra coisa, teológica, em vez de econômica, é pretender que determinadas metas sejam aceitas e engolidas por todos os candidatos como sacrossantas.


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