|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O déficit e a pedra
SÃO PAULO - O compromisso com um dado número para o déficit público "não é de pedra".
Quem disse essa frase, que a sabedoria convencional dos mercados e
da equipe econômica atual não hesitaria em classificar de blasfêmia? Foi
Luiz Inácio Lula da Silva? Guido
Mantega? O Garotinho?
Não, a frase é de Francis Mer, ministro de Finanças da França, país
governado pelo que lá se chama de
direita (mas que, se fosse nos tristes
trópicos, bem que poderia ser de extrema esquerda).
Tem mais. Nicole Fontaine, ministra da Indústria do mesmo governo
conservador francês, diz que seu pessoal pretende "reinterpretar inteligentemente" o Pacto de Estabilidade
e Crescimento, o acordo que estabeleceu as regras orçamentárias para os
países que iriam compartilhar o euro,
a moeda única hoje válida para 12
dos 15 países europeus.
O déficit tolerado é de 3% do PIB
(Produto Interno Bruto, medida da
produção de bens de uma economia),
mas a intenção é reduzi-lo a zero até
o ano de 2004.
O governo francês, no entanto, vai
mais ou menos pelo mesmo caminho
do PT brasileiro: Fontaine diz que o
pacto de estabilidade deveria pôr no
crescimento a mesma ênfase que põe
na disciplina fiscal.
Não é parecido com a idéia de
Mantega de colocar, lado a lado, metas sociais com metas inflacionárias,
a nova vaca sagrada?
Tudo bem que a França é rica e, por
extensão, lá os franceses também votam, diferentemente do Brasil, onde
os mercados decidem o que é melhor
para os eleitores.
Mas, assim mesmo, fica claro que
uma coisa é o bom senso de pretender
que o governo não gaste mais do que
arrecada. Outra coisa, teológica, em
vez de econômica, é pretender que
determinadas metas sejam aceitas e
engolidas por todos os candidatos como sacrossantas.
Texto Anterior: Editoriais: DENGUE EM INGLÊS Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Minas e seus avulsos Índice
|