São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Não é pecado

FRANKFURT - Principal manchete de ontem do "International Herald Tribune", o mais global dos jornais, propriedade do "New York Times: "Airbus deve requerer ajuda estatal".
Para quem não sabe, trata-se do fabricante europeu de aviões, a megacompanhia que disputa o mercado com outro gigante, a Boeing, norte-americana.
A Airbus não está quebrando. Está é com dificuldades com uma aeronave de médio porte, a A-350. Bom, lida a manchete, fui aos colunistas de economia da grande mídia internacional na certeza de que eles, unanimemente, esculhambariam a pretensão, diriam que esse "regresso ao populismo" é inaceitável, os mais extremados veriam até um dedo do coronel Hugo Chávez na história. Nada. Nem poderia haver, aliás, posto que tanto a Airbus como a Boeing já recebem subsídios de seus respectivos governos, o que é tema de uma azeda disputa comercial entre os EUA e a Europa.
Não, caro leitor, não vou, a esta altura, defender uma mão do governo para a Varig. Parece tarde demais. Mas está na hora de o Brasil parar de ser fundamentalista nessa questão -como em tantas outras.
Já houve época em que qualquer empresário com conexões no governo recebia sua graninha do BNDES ou por outros caminhos. Hoje, falar em ajuda do governo é pecado mortal (o que não impede vantagens por baixo do pano para os bem conectados, como é da vida em qualquer lugar do mundo).
Ajudar empresas não é uma questão ideológica. Deve ser analisada caso a caso. Salvar algumas pode ser mais "capitalista" do que deixá-las morrer. Imperdoável mesmo é permitir que uma empresa como a Varig sangre em praça pública, desrespeitando seus passageiros e seus funcionários, tenham ou não estes culpa no cartório.

crossi@uol.com.br


Texto Anterior: Editoriais: Moeda de troca

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Bolsa-Varig
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.