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Decepção e receio
Primeiro leilão de energia alternativa acarreta mais dúvidas sobre geração da eletricidade necessária para fazer o país crescer
DECEPÇÃO. Foi com este
qualificativo que o ministro interino de Minas e Energia, Nelson
Hubner, se referiu ao 1º Leilão de
Energia de Fontes Alternativas.
O pregão acrescentou apenas
639 megawatts (MW) à oferta
contratada de eletricidade e,
com isso, adicionou incerteza ao
cenário energético nacional. Não
só permanecem como se agravam as dúvidas sobre a capacidade de gerar a energia necessária
ao crescimento da economia.
Estima-se que usinas sucroalcooleiras sejam capazes de produzir entre 2.000 e 3.000 MW
com a queima de biomassa (bagaço de cana). No entanto, só
1.019 MW foram ofertados no
leilão, dos quais pouco mais que
a metade (542 MW) terminaram
vendidos. Os restantes 97 MW
contratados correspondem a pequenas centrais hidrelétricas.
A decepção aumenta quando
se considera que essas duas formas de geração figuram entre as
mais promissoras do Programa
de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), regulamentado em 2004. O
panorama completo do Proinfa,
que inclui fontes como energia
solar e eólica, é ainda mais desolador. Apesar do escopo modesto
de agregar 3.300 MW ao parque
nacional até o final de 2008, só
852 MW foram instalados e postos em geração, ou 26%.
Para efeito de comparação, cabe lembrar que o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) de
Lula projeta o acréscimo de
12.386 MW à capacidade instalada de geração até 2010, segundo
o Ministério de Minas e Energia
(MME). Isso corresponde à incorporação de algo entre 3.000 e
4.000 MW por ano. Em outras
palavras: um Proinfa, no mínimo, a cada ano. Contudo, não é
só na seara alternativa que a política energética não deslancha.
Os atrasos no licenciamento
ambiental das grandes hidrelétricas da Amazônia são mais que
conhecidos. É improvável que a
novela das usinas Santo Antônio
e Jirau (total de 6.450 MW), no
rio Madeira, tenha desfecho capaz de fazê-las operar a partir de
2011, como planejado. Pairam
também interrogações graves
sobre a confiabilidade de termelétricas a gás, com a crise de fornecimento aberta pelo presidente da Bolívia, Evo Morales.
A usina nuclear Angra 3 levará
ao menos seis anos para ficar
pronta e gerar os 1.350 MW previstos -isso se o governo enfim
conseguir superar a resistência,
finalizar o licenciamento ambiental e dar sinal verde para a
construção. Nem mesmo a decisão política de seguir em frente
com a polêmica central está tomada, o que pode ocorrer na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética.
Em todas as frentes, as incertezas se acumulam, sem que o governo Lula seja capaz de demonstrar projeto e comando.
Nessa toada, só conseguirá desacelerar o crescimento.
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