São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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ANTONIO DELFIM NETTO

Arqueologia econômica

A FOLHA de domingo publicou uma interessante, competente e equilibrada reportagem, do jornalista Pedro Soares, com o título "1973, o ano em que o Brasil cresceu 14%" -o maior registrado naquele ano no mundo.
O assunto só tem valor arqueológico, mas é inaceitável a classificação de "milagre" para o crescimento de 1968/73, feita com certa ironia e não sem uma pontinha de tristeza por alguns críticos. "Milagre" é efeito sem causa, evento extraordinário, inexplicável pelas leis da natureza. O que nos aconteceu está longe de satisfazer tal definição: foi o encontro feliz da disposição dos brasileiros de trabalhar duro com a expansão do mercado mundial, que nos achou preparados pelas grandes reformas orçamentária, monetária, tributária e trabalhista, executadas entre 1964 e 1966 pelos ministros Octavio Gouveia de Bulhões e Roberto de Oliveira Campos.
A tabela abaixo revela o desempenho da economia brasileira no período 1968/73, com destaque para o ano final, para desmontar outra crítica equivocada que se fazia na ocasião e que, infelizmente, é repetida até agora: "o desenvolvimento se fez à custa de insustentável endividamento externo".



Apenas para relativizar esses resultados, é preciso dizer que, em 1973, o crescimento do PIB mundial foi de 6,8% (o nosso, de 14%), e a taxa de inflação mundial foi de 11% (a nossa, de 15,6%). A tabela mostra a falsidade da acusação de "endividamento insustentável": a relação dívida externa líqüida/ exportação de bens e serviços era de 1,2 em 1973, quando a relação "virtuosa" é de 1. O endividamento só começou em 1974, quando as importações cresceram 104% devido à primeira crise do petróleo.
Talvez mais importante do que isso seja o gráfico abaixo, que mostra que a aceleração do crescimento foi acompanhada por uma redução da taxa de inflação, observação que liqüidou a "ciência" do cepalismo-vulgar que inspirava os críticos de então.



ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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