São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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RUY CASTRO

Batida diferente

RIO DE JANEIRO - Durval Ferreira, que morreu domingo no Rio, aos 72 anos, era um compositor e violonista da bossa nova. Compôs alguns dos maiores clássicos do gênero, mas não era famoso. Não tanto, por exemplo, quanto Carlos Lyra, João Donato ou Baden Powell, seus colegas de geração. Sua obra, no entanto, rivaliza com a deles em originalidade, dinamismo e beleza.
É só conferir. Com diversos parceiros, Durval foi autor de "Tristeza de Nós Dois", "Estamos Aí", "Batida Diferente", "Chuva", "Nuvens", "Moça Flor", "Sambop", "São Salvador", "Porque Somos Iguais", "Mania de "Snobismo'", "Samba Novo", "E Nada Mais". Os títulos podem não lhe trazer as melodias à memória, mas, assim que ouvidas, elas serão reconhecidas imediatamente.
Canções adoráveis, mas que mesmo muitos críticos não saberiam atribuir a ele. E, ao que me parece, isso nunca lhe fez diferença. Como músico, tocou em centenas de discos, muitas vezes sem crédito para seu violão. E, como produtor, foi responsável por dezenas de outros que, por sua vez, nunca se preocupou em assinar. Esse era o seu jeito.
Durval precisou chegar aos 69 anos, em 2004, para aceitar gravar o primeiro disco em seu nome, e somente por insistência da pequena Guanabara Records. Assim que souberam, no entanto, 40 dos mais importantes músicos brasileiros fizeram de tudo para participar dele. O resultado, o CD "Batida Diferente", fala por si.
Pela vida, assisti a grandes shows de Durval. O mais emocionante foi em janeiro último, no J. Club, no Rio. Ele já estava doente. Mas, com a destreza felina de seu violão e com Leny Andrade a tiracolo, quase derrubou a casa. Durval era o balanço em pessoa. E sua canção "Batida Diferente", esta, sim, é um manifesto da bossa nova, da qual ele foi um soldado fiel e apaixonado.


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