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RUY CASTRO
Batida diferente
RIO DE JANEIRO - Durval Ferreira, que morreu domingo no Rio,
aos 72 anos, era um compositor e
violonista da bossa nova. Compôs
alguns dos maiores clássicos do gênero, mas não era famoso. Não tanto, por exemplo, quanto Carlos
Lyra, João Donato ou Baden Powell, seus colegas de geração. Sua
obra, no entanto, rivaliza com a deles em originalidade, dinamismo e
beleza.
É só conferir. Com diversos parceiros, Durval foi autor de "Tristeza
de Nós Dois", "Estamos Aí", "Batida
Diferente", "Chuva", "Nuvens",
"Moça Flor", "Sambop", "São Salvador", "Porque Somos Iguais", "Mania de "Snobismo'", "Samba Novo",
"E Nada Mais". Os títulos podem
não lhe trazer as melodias à memória, mas, assim que ouvidas, elas serão reconhecidas imediatamente.
Canções adoráveis, mas que mesmo muitos críticos não saberiam
atribuir a ele. E, ao que me parece,
isso nunca lhe fez diferença. Como
músico, tocou em centenas de discos, muitas vezes sem crédito para
seu violão. E, como produtor, foi
responsável por dezenas de outros
que, por sua vez, nunca se preocupou em assinar. Esse era o seu jeito.
Durval precisou chegar aos 69
anos, em 2004, para aceitar gravar o
primeiro disco em seu nome, e somente por insistência da pequena
Guanabara Records. Assim que
souberam, no entanto, 40 dos mais
importantes músicos brasileiros fizeram de tudo para participar dele.
O resultado, o CD "Batida Diferente", fala por si.
Pela vida, assisti a grandes shows
de Durval. O mais emocionante foi
em janeiro último, no J. Club, no
Rio. Ele já estava doente. Mas, com
a destreza felina de seu violão e com
Leny Andrade a tiracolo, quase derrubou a casa. Durval era o balanço
em pessoa. E sua canção "Batida Diferente", esta, sim, é um manifesto
da bossa nova, da qual ele foi um
soldado fiel e apaixonado.
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