|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
A Univesp é um bom caminho para ampliar o acesso ao ensino superior no país?
SIM
O papel da universidade
GIL DA COSTA MARQUES
A UNIVERSIDADE tem duas funções primordiais. A primeira é
expandir as fronteiras do conhecimento e, assim, enriquecer a
cultura científica e tecnológica do
país. A mais importante, no entanto, é
promover a formação de recursos humanos qualificados, os quais são elementos-chave no fomento do desenvolvimento econômico e social.
Para melhor cumprir sua função
social, as universidades públicas devem buscar alternativas, além do ensino presencial, visando à ampliação
da oferta de cursos novos. Isso levaria
à formação de mais indivíduos qualificados para alavancar o desenvolvimento da sociedade que as sustenta.
Por isso, vemos como positivas as
iniciativas das universidades estaduais paulistas de investir no ensino à
distância. A universidade é o espaço
da criatividade, da pesquisa e da inovação. Espera-se dela que investigue e
analise novas ideias e experiências de
natureza educacional. Assim, urge
encontrar mecanismos institucionais
visando à incorporação das novas tecnologias tanto no apoio ao ensino
presencial quanto na ampliação de
cursos de extensão e de graduação.
Há uma demanda crescente pelo
ensino de qualidade. Há, por outro lado, no modelo atual de ensino, uma limitação de recursos materiais e humanos que impede o atendimento cabal dessas demandas. Com a evolução
das ferramentas voltadas para o ensino, a modalidade à distância se torna
uma alternativa viável para atender
boa parte da demanda reprimida.
Portanto, a questão do uso das novas tecnologias não é se devemos utilizá-las para ampliar a oferta de cursos, mas como fazê-lo e em que ritmo.
O uso das novas tecnologias no ensino pode representar uma mudança
de paradigma. Trata-se de uma forma
de democratização do ensino e uma
alternativa de inclusão social para
aqueles que, por conta da sua condição social ou localização geográfica,
não têm acesso ao ensino presencial.
Pode a universidade pública furtar-se à pesquisa, à disseminação e ao uso
de um instrumento tão promissor?
Podemos oferecer cursos à distância sem que se perca a comprovada
qualidade do ensino presencial?
Temos pouca experiência nessa
modalidade, mas chamamos a atenção para um caso concreto. Tendo em
vista a necessidade de formação de
professores, a UFRJ oferece cursos à
distância. O relatório de avaliação do
curso de física indica que o desempenho dos alunos e a taxa de evasão são
os mesmos dos cursos presenciais. A
experiência da UFRJ demonstra que
uma universidade de prestígio pode
praticar ensino à distância mantendo
o mesmo nível do ensino presencial.
O senso de responsabilidade exigido de USP, Unesp e Unicamp impõe,
por outro lado, muita cautela para
que não se comprometa a qualidade
do ensino. Ademais, ninguém, ao que
se saiba, defende a substituição ou a
redução do ensino presencial.
As duas propostas em discussão na
USP, por exemplo, visam tão-só à ampliação da oferta de cursos. Elas foram formuladas por 32 docentes de
vasta experiência e devem ser (ou foram) analisadas em seis instâncias diferentes na universidade.
Uma vez que temos um longo percurso pela frente e estamos apenas
aprendendo a ensinar utilizando essas novas tecnologias, essa cautela é
justificável. Novos cursos e modelos
educacionais, além dos já sugeridos,
devem ser analisados no futuro.
Por que deveríamos, nesse momento, ampliar a oferta de cursos? Uma
nova perspectiva se abre quando analisamos o problema do ensino de
ciências e matemática no Brasil.
É sabido que avaliações recentes
colocam o ensino dessas matérias no
país entre os piores do mundo. Um
dos entraves ao ensino de ciências é a
qualificação dos docentes. Assim,
acreditamos que a USP deve oferecer,
num primeiro momento, cursos de
extensão e cursos de licenciatura à
distância nos diversos ramos das
ciências e pedagogia.
Com isso, estaria atendendo a uma
demanda de claro interesse social.
A questão central é se essas universidades querem lançar mão do ensino
à distância para resgatar uma enorme
dívida social. Estão sendo instadas a
resolver um problema cuja solução
está a seu alcance. Cabe a elas contribuir, de forma significativa, para a
melhoria do ensino no Brasil.
GIL DA COSTA MARQUES, 63, é professor titular do Instituto de Física da USP, coordenador de Tecnologia da Informação da USP e membro do conselho da Univesp.
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: César Augusto Minto: Univesp é arremedo de ensino superior
Índice
|