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DECADÊNCIA DE ARAFAT
Iasser Arafat é um sobrevivente. Por diversas vezes, quando
a situação parecia tão grave que poucos arriscariam apostar um vintém
em sua sobrevivência política e mesmo física, ele acabou descobrindo
uma saída. Agora, mais uma vez, o líder palestino se encontra diante de
sérios problemas. Diferentemente de
várias das outras ocasiões, contudo,
as adversidades não lhe são impostas
por seus inimigos, mas por seus aliados. Violentos protestos em Gaza
contestam a sua própria autoridade.
As manifestações, em grande parte
promovidas por grupos de jovens
militantes ligados ao Fatah, o movimento político de Arafat, reclamam
o fim da corrupção e do nepotismo.
O alvo imediato da rebelião é Moussa
Arafat, primo do dirigente da ANP
(Autoridade Nacional Palestina), nomeado no sábado para chefiar os serviços de segurança em Gaza. Moussa
é, para a nova geração, a personificação da venalidade e do favoritismo
que ela pretende combater.
Tentando contornar a situação,
agravada ainda pela renúncia do primeiro-ministro Ahmed Korei, Arafat
indicou ontem o general-de-brigada
Abdel Razek Majaide para ocupar
um posto superior ao de seu primo
Moussa Arafat. É cedo para saber se a
manobra vai conter os ânimos. Korei
já deu indicações de que poderá rever
seu pedido de demissão, mas ainda
não o disse explicitamente.
Há sérias dúvidas quanto à capacidade de Arafat, decadente e fisicamente enfraquecido, de enfrentar
mais esse desafio. Após dez anos,
sua administração ficou marcada pela corrupção e o nepotismo, agravados pela repressão israelense e a desesperança com o futuro.
Numa situação ideal, o líder da
ANP orquestraria sua própria sucessão. Nomearia um primeiro-ministro e lhe transferiria poderes reais,
para que pudesse retomar as negociações de paz com Israel. Infelizmente, essa transferência de poder
não parece estar nos planos de Arafat
-cuja herança política poderá ser
objeto de uma sangrenta guerra civil.
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