São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A vida e a bolsa

BRUXELAS - O aeroporto de Madri parece estação rodoviária em feriado prolongado. Pára um avião depois do outro. Despejam levas de turistas em filas intermináveis diante dos guichês de controle de passaportes.
Foi domingo. Ontem, em Bruxelas, um belo artigo em "The International Herald Tribune", o mais global dos jornais, porque impresso em uma dúzia de cidades pelo mundo, lembrava-me as causas -nobres, aliás- de tanto movimento nesta época de férias de verão na Europa (e no hemisfério Norte em geral).
O artigo, aliás, vai mais longe: compara os dois únicos modelos de organizar a vida restantes no planeta depois do colapso do comunismo, o europeu e o norte-americano. E, apesar de a empresa editora do "Trib" ser norte-americana (pertence a "The New York Times"), a comparação é favorável aos europeus.
Diz, por exemplo, que a menor produtividade da economia européia e o seu nível relativamente mais modesto de renda não é um fracasso, mas, principalmente, o reflexo de "uma série de escolhas políticas que tendem a premiar o lazer e a igualdade à custa de maior riqueza".
Para o meu gosto, já seria uma tremenda vantagem, mas mesmo a desvantagem (o suposto esclerosamento da Europa) é mais ficção que realidade, na medida em que, nos últimos dez anos, o crescimento da economia dos então 15 países da União Européia ficou apenas um ponto por ano abaixo dos EUA (e o período inclui o "boom" da era Clinton).
Em contrapartida a esse crescimento levemente inferior, "a Europa tem menos pobreza infantil, menor incidência de analfabetismo e uma população carcerária menor que nos Estados Unidos", diz o texto.
Mais: "os europeus também têm uma esperança de vida levemente superior e podem ter a expectativa de passar mais tempo de sua velhice em boa saúde".
Pena que o Brasil, nos últimos muitos anos, ficou com o pior de cada modelo. Pena também que não pareça haver disposição para buscar uma real correção de rumos.


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