São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Anjo da morte

RIO DE JANEIRO - Deus é testemunha que, ao contrário dos colegas da mídia, não chego a demonizar Paulo Maluf. Ele é massacrado por ampla maioria de entendidos, que lhe atribuem a "pole position" da malignidade, da corrupção e da cara-de-pau.
Sua atuação na vida pública é polêmica, todos sabem que foi um tocador de obras, como JK e Mário Andreazza, suspeitos de grandes e de pequenas falcatruas.
Dou de barato que a assinatura dele nos tais papéis vindos da Suíça possam ser macetados. Com os recursos da informática, é fácil fabricar um papel assinado por Sócrates e Jesus Cristo, que ensinaram muito, mas nada deixaram escrito.
De qualquer forma, a visita de Maluf a uma UTI foi dose imperdoável, não pelo resultado em si, a relação de causalidade: o doente visitado morreu horas depois, efeito fulminante para uma visita desastrada.
O grande mico foi ter ido a uma UTI, acompanhado de correligionários, sem a devida proteção contra a possibilidade de infecção hospitalar.
Nos centros mais adiantados do mundo, em Cleveland, na Clínica de Mayo, nos maiores e melhores hospitais do mundo, em Tóquio, na Suécia, o grande fantasma que atormenta a tecnologia de ponta é justamente a infecção, que muitas vezes provém dos próprios equipamentos de última geração, como aparelhos de ar condicionado e fornos de esterilização.
Tivemos o caso de Tancredo Neves, cuja morte teve início em sua primeira internação, que, de certo modo, poderia ser considerada de rotina. Rotina que foi quebrada com a invasão da sala de cirurgia por mais de 200 pessoas, algumas de short e de sandálias havaianas. Hoje se sabe que foi essa a causa que provocaria a septicemia que o matou.
Faltou mancômetro a Maluf. Não acredito que dê muita bola para seus assessores. Errando ou acertando, ele tem a cara que tem e já foi dito que, para o bem ou para o mal, tem a cara de São Paulo, não o apóstolo, mas a cidade.


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