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CLÓVIS ROSSI
A pista e os "traidores"
SÃO PAULO - Ao dar ordens à Polícia Federal para investigar se houve irregularidades nas obras de reforma da pista de Congonhas, o
próprio presidente Lula reforça a
sensação de que o país pisa no pântano nessa área de obras públicas
-como em muitas outras.
Não adiante o ministro da Justiça, Tarso Genro, dizer que a determinação não implica apontar um
dedo acusador para "qualquer órgão público". Está apenas dizendo o
óbvio. Nenhuma autoridade aponta
o dedo para qualquer setor de seu
próprio governo antes de investigar. Às vezes, nem depois.
Mas o gesto do presidente Lula só
pode ter uma de duas interpretações, a saber:
1 - É zelo presidencial. Seria ótimo e desejável, se não fosse inócuo.
O presidente sabe que todo acidente aéreo gera uma investigação minuciosa, que ataca em todas as frentes, inclusive no equipamento do
aeroporto afetado.
Logo, dar ordens para fazer o que
de todo modo seria feito ou é chover
no molhado ou é apenas mostrar
movimento para um público supinamente irritado com o que está
acontecendo.
2 - O presidente teme que tenha
sido, de novo, "traído" por seus
companheiros de governo, capazes
de fazer e/ou engolir algum trambique na obra da pista.
Como todo mundo lembra, no
episódio do mensalão, Lula se disse
traído, mas recusou-se sistematicamente a dizer quem o traíra.
Entre parêntesis, é uma atitude
inaceitável, porque acaba servindo
para encobrir pessoas que cometeram atos indevidos, entre eles o de
trair a confiança do chefe de governo. O encobrimento não produz o
efeito demonstração que a denúncia pública teria e, por isso, seria capaz de evitar a sua repetição.
Resumo da ópera: a leniência
com "traidores", mensaleiros, "aloprados" e que tais é parte fundamental na criação do ambiente
malcheiroso que o país vive.
crossi@uol.com.br
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