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MARINA SILVA
Valor que não se mede
O PRÓXIMO relatório sobre
desenvolvimento humano
no Brasil terá valores como
tema. A escolha foi feita pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), diante
do resultado de pesquisa que recebeu 500 mil respostas à pergunta:
"O que deve mudar no Brasil para
sua vida melhorar de verdade?"
A novidade dessa pesquisa, em
relação a trabalhos semelhantes
feitos pelo PNUD em outros países,
foram as perguntas abertas, sem
temas predefinidos. E a maioria
das respostas mostrou que os brasileiros querem, com urgência e
antes de tudo, respeito, justiça, honestidade, responsabilidade, solidariedade, ética.
Saindo dos limites da pura objetividade estatística, o estudo encontrou a alma dos brasileiros clamando por valores. As pessoas não
estão preterindo a saúde, a escola, a
casa, o trabalho, a segurança. Só estão dizendo que valores são a base
para a solução dos problemas. Eles
antecedem e transcendem as demandas materiais.
Estão dizendo também que a
grande saída para o Brasil está em
outro patamar, acima do binômio
poder-dinheiro. Ela passa pela coerência dos processos, pela inteireza
ética das decisões, pela sensibilidade para aquilo que não se mede,
não se pesa, não se coloca preço,
mas nem por isso deixa de -como
diz uma das cartas paulinas- ter
"largura, comprimento, altura e
profundidade" e de ser decisivo para significar e dar qualidade às nossas vidas.
Não se trata de colocar no pedestal a sociedade supostamente virtuosa contra um território vicioso,
que seria o da política. Há enormes
contradições no cotidiano de cada
ser humano, entre o que se entende ser o correto e aquilo que de fato
se pratica. Mas é animador que o
anseio por valores dirija-se basicamente às instituições, de onde vêm
os estímulos que consolidam os
princípios de convivência coletiva.
Pois o desencanto vem não só
dos pequenos tropeços individuais,
mas sobretudo dos sinais emanados das instituições, quando parecem indicar que só nos resta o caminho do vale-tudo. Esse é o foco
de uma erosão cultural que vai nos
habituando a conviver com agressões cada vez maiores, sem nos
sentirmos indignados. É um processo que acaba virando doença coletiva.
Há, portanto, um debate fundamental para arejar o ano eleitoral
de 2010, até porque o resultado da
pesquisa PNUD remete naturalmente à política e sua capacidade
de promover ou enterrar valores.
Será o momento de a sociedade escolher quais valores deseja promover. É isso que torna viáveis as mudanças necessárias, é o que move a
boa escola, o bom governo, a boa
empresa, um bom país, é o que faz a
vida melhorar de verdade.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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