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RUY CASTRO
Endereços com história
RIO DE JANEIRO - Só se soube
outro dia, por uma coluna de jornal,
que a bela casa em forma de navio
na rua Codajás, numa seção exclusiva do Leblon chamada Jardim
Pernambuco, foi abaixo em silêncio
e em segredo há alguns anos. Em
seu lugar, surgiu outra, talvez mais
moderna e confortável, mas sem o
mesmo charme. A casa original tinha história: Tom Jobim morou nela durante toda a segunda metade
dos anos 60.
Conheci essa casa de Tom. Foi
nela que ele me recebeu, em março
de 1967, para uma entrevista para a
revista "Manchete" e, uma hora depois, sugeriu que fôssemos continuar a conversa em seu QG, o bar
Veloso, em Ipanema. Foi daquela
casa que Tom saiu para gravar em
Los Angeles com Frank Sinatra e foi
também nela que ele compôs "Wave", "Chovendo na Roseira", "Sabiá", "Retrato em Branco e Preto" e
finalizou "Águas de Março".
Em compensação, grandes endereços anteriores de Tom, berços indisputados da bossa nova, estão de
pé e podem ser admirados sem problema. O predinho da rua Nascimento Silva, 107, típico da velha
Ipanema, continua firme, com o
apartamento onde ele compôs "A
Felicidade", "Se Todos Fossem
Iguais a Você", "Chega de Saudade",
"Dindi", "Fotografia", "Brigas Nunca Mais" etc., e todas as canções de
"Canção do Amor Demais".
E a casa da rua Barão da Torre,
por acaso também 107, para onde
ele se mudou em 1960 e onde nasceram "Corcovado", "Ela é Carioca", "Samba do Avião", "Só Danço
Samba", "Inútil Paisagem", "O
Morro Não Tem Vez" e, como se
chamava mesmo?, "Garota de Ipanema", está tal e qual e é agora
uma... pousada.
Como se vê, nem toda a história
está perdida. Mas o Rio tem toneladas de história, e nem sempre se pode impedir que, por ignorância ou
incúria, uma parte tão preciosa dela
tombe a golpes de insensibilidade e
marreta.
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