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De guerras, maçanetas e malas
JOSIAS DE SOUZA
São Paulo - Terminada a Primeira
Guerra Mundial, o êxodo rural aumentou nos EUA. Entre os que trocaram o campo pela cidade, havia levas
de soldados que, de volta das batalhas
na Europa, retomavam a vida.
Uma música lançada antes do final
da guerra antecipou, por assim dizer,
o movimento em direção aos grandes
centros. "Como vamos segurá-los (os
soldados) na fazenda depois que conheceram Paris?", indagava a letra.
O leitor deve estar imaginando que
falaremos sobre os EUA. Não, não. Pede-se inclusive que esqueça os dois
primeiros parágrafos.
Interessa-nos apenas a pergunta da
canção: "Como vamos segurá-los na
fazenda etc, etc...". Ela ainda poderá
nos ser útil.
Uma estranha epidemia se alastra
pela América Latina, eis o tema que
nos interessa. O vírus do continuísmo
foi inoculado na corrente sanguínea
de alguns presidentes latinos.
Seus efeitos são nefastos. Infectado,
o sujeito passa a imaginar que é insubstituível como Deus. Em estágios
mais avançados, acha que é, ele próprio, dotado de poderes divinos.
Os casos mais graves são os de Menem e Fujimori. Eleitos uma vez, manobraram por um segundo mandato.
E agora buscam um terceiro.
A síndrome do continuísmo, incurável e contagiosa, se desenvolve em ambientes de fluidez cívica, em que a
oposição não consegue se viabilizar
como alternativa.
A julgar pelo resultado das últimas
pesquisas, também FHC obterá um segundo mandato. E poucos crêem que
se contentará com oito anos. Eleito,
desejará mais. Nem que seja como
presidente sob um regime parlamentarista.
Volte-se à pergunta do início. Ou a
variantes dela, aplicáveis a FHC.
Quem irá segurá-lo em casa depois
que conheceu as delícias do Alvorada?
Quem irá convencê-lo a virar a maçaneta da porta, a segurar a própria mala, depois que conheceu a comodidade
de um ajudante-de-ordem?
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