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REELEIÇÃO EM SÉRIE
A decisão do Partido Justicialista da
Argentina de tentar habilitar a terceira candidatura Carlos Menem, proibida pela Constituição argentina, parece refletir certas tendências continuístas na política da América Latina. A convenção do partido sancionou na sexta-feira passada uma moção para que seus líderes solicitem à
Justiça permissão para que o chefe de
Estado volte a se candidatar. Dezenas
de delegados contrários à reeleição
não compareceram.
A recandidatura parece uma oportunidade democrática de o eleitorado
reconduzir um bom governante ao
poder. Mas a permanência prolongada pode tornar o Estado refém de um
grupo político, que pode vir a ser exageradamente tentado a manter o
mando. Situação que se agrava com
um terceiro mandato.
O menemismo espera conseguir a
autorização na Corte Suprema de
Justiça, cujos membros, em sua
maioria, têm sido acusados de "permeáveis" a desejos oficiais, por serem ligados ao presidente.
Outra opção da qual Menem poderá
lançar mão é o Congresso. Os parlamentares governistas poderiam tentar alterar a Constituição de 94, mas
o presidente não teria os votos suficientes para aprovar mudanças e só o
conseguiria com expedientes pouco
democráticos. Sem tradição em democracia, a América Latina ainda vive entre instabilidade e tentações até
autoritárias de continuísmo.
No Chile, parlamentares eleitos
ainda compartilham o Senado com
os vitalícios biônicos. O Paraguai esteve recentemente sob ameaça de
golpe. O Peru é outro exemplo de regime híbrido, sob o comando do autoritário Alberto Fujimori. Como seu
colega argentino, Fujimori manobra
para permanecer no poder, candidatando-se novamente no ano 2000.
Parecem exemplos de que, na América Latina, é preciso cuidado para
que a recondução de governantes
não degenere em ilegalidades e mesmo golpes. Num subcontinente em
que a rotatividade democrática no
poder não é uma prática sedimentada, o continuísmo ainda pode suscitar novas formas de autoritarismo.
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