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Mesmo discurso
No horário eleitoral, candidatos se igualam e não apresentam propostas claras para a sociedade brasileira
SAÚDE, segurança, educação e moradia. Muito emprego e crescimento. Não
há candidato, neste início
de horário eleitoral, que não
enumere tais "prioridades" como se fossem exclusivamente
suas, usando o tom preciso de
quem as definiu depois de longo
escrutínio técnico.
Listas desse tipo serviriam melhor, na verdade, como alternativas aos tradicionais votos que se
formulam nos cartões de fim de
ano. Apresentadas como simulacros de programa de governo,
vêm insultar, mais uma vez, a inteligência do eleitor.
O fenômeno não reflete apenas
a submissão de praxe ao marketing eleitoral. Reflete também
um antigo vício da política brasileira: a tentativa sistemática de
evitar qualquer dissenso.
Não é obrigatório que seja assim. Nas eleições presidenciais
norte-americanas -onde o marketing decerto não desempenha
papel menor do que aqui-, por
exemplo, pode-se perceber que,
tanto quanto a reafirmação de
valores e idéias comuns, parte
dos próprios candidatos o interesse em fixar as linhas que os dividem e suas mútuas diferenças
programáticas.
Mesmo que isso acarrete prejuízo eleitoral, os candidatos não
evitam questões polêmicas. Raras vezes, no Brasil, ocorre algo
equivalente. Vota-se pela continuidade ou não de determinado
governante, sem que suas propostas e as de seus oponentes de
fato se confrontem.
Ainda que os termos do debate
fossem passíveis de crítica, a experiência recente do referendo
sobre o comércio de armas constituiu um exemplo interessante
de questão em que, bem ou mal, a
opinião pública se dividiu, aprofundou seus argumentos, hesitou, discutiu e por fim chegou a
um veredicto.
Costuma-se repetir que governar é eleger prioridades. Tudo,
entretanto, é prioridade quando
o que atende por esse nome corresponde apenas ao conjunto
das necessidades básicas da população.
Tanto quanto aprovar ou reprovar as condutas de quem ocupa um cargo púbico, em uma
eleição deveriam estar em jogo
alternativas claramente diferenciadas sobre como resolver problemas essenciais da sociedade
brasileira. A política é o único
meio de que se dispõe para decidir civilizadamente que setores
perdem, que setores ganham,
que meios se empregam, e a que
custo, ao definir-se o futuro de
um país.
Prioridades vagas não substituem programas de governo, e
mesmo estes dizem pouco se não
explicitam os mecanismos legislativos, administrativos e financeiros pelos quais serão implementados. Não se trata de exigir
um enfoque tecnocrático -sem
dúvida enfadonho- à campanha
sucessória, mas sim de cobrar
uma abordagem verdadeiramente política do debate.
Cabe convir, de todo modo,
que nenhuma discussão concreta de programas, mesmo se detalhada, poderia ser tão cansativa e
estéril a esta altura quanto a rotina de "prioridades", acenos e
sorrisos que compõe o horário
eleitoral.
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