São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEBATE DISTORCIDO

O sistema de progressão continuada implantado nas escolas da rede pública do Estado de São Paulo se tornou um dos pontos altos da campanha pela sucessão de Geraldo Alckmin. Os principais candidatos atacam duramente o governador por defender esse regime, que chamam, indevidamente, de promoção automática ou fim da repetência. Mostram mães queixando-se de filhos que "passam de ano" mal conseguindo ler e escrever.
Antes de mais nada, é preciso distinguir o sistema de progressão continuada de sua implantação. O primeiro é uma tese pedagógica consistente, sancionada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e que conta com o respaldo de renomados educadores. Já a introdução do novo regime na rede de ensino merece de fato críticas, mas não tão severas que impliquem reverter as mudanças.
Não há muita lógica no princípio da reprovação. Um exemplo: por que um aluno que foi reprovado por conta de deficiências em matemática precisa refazer todas as outras disciplinas? A idéia de reprovação parece ser a herança de uma pedagogia ultrapassada, que pode ser substituída -e com vantagens- por concepções mais modernas de educação.
É claro, por outro lado, que a mudança de regime deveria ter sido precedida de cuidadosa preparação, o que, infelizmente, não aconteceu. Para a progressão continuada funcionar, é preciso que as escolas contem com um sistema eficiente para identificar dificuldades dos alunos e tentar recuperá-las. Também teria sido necessário fazer um trabalho de conscientização com os pais, para que eles não se sentissem "ludibriados" pela escola.
É justo que o governo seja criticado pelo que deixou de fazer na implantação da progressão, mas é uma pena que a ânsia de vencer de alguns candidatos coloque em risco o próprio princípio da progressão, que é bom e deveria ser aprimorado.


Texto Anterior: Editoriais: LULA NO ALVO
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A eleição, em inglês
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.