São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

O nó cego da economia política

SÃO PAULO - No que depende do governo e de seus guardiães (bancos, grande investidor), o que determina a política econômica são as metas de inflação e o tamanho da dívida pública, nessa ordem. Fome, emprego, investimento em necessárias obras públicas, nada disso importa quando o governo avalia as medidas centrais da política econômica.
Nenhuma avaliação correta do que está acontecendo ou do que deveria acontecer pode ignorar tais fatos.
O Banco Central anunciou, a quem quiser ouvir, que cumprirá as metas de inflação a ferro e fogo e juros e não importa o quanto isso custe em dívida pública. Enorme, ela será abatida. A fim de que o crescimento não seja por demais sacrificado, deve aumentar o superávit público primário, a economia feita pelo governo para pagar juros da dívida. São essas as circunstâncias de um país de várias distorções de mercado, dívida enorme e economia aberta.
As metas de inflação estão definidas até o final de 2005. Bom ou ruim, mexer nisso vai causar turbulência financeira contraproducente. Para cumprir metas, controlar a dívida e preparar alguma reforma da política econômica será preciso mais superávit pelo menos até 2005. Por ora, não dá para conter juros e fazer menos superávit ao mesmo tempo.
Isto é, há a alternativa de detonar a política econômica. Ignorar inflação e dívida. A depender do tamanho do descaso, viveríamos crise semelhante à de 2002, quando o mercado imaginava que Lula aplicaria o programa econômico que sempre pregou, que redundou em dois anos de estagnação. Não dá para ter política econômica de outra cor e não enfrentar crise feia ao mesmo tempo.
Há o caminho da reforma. Não baixar as metas de inflação para 2006. Mexer um pouco no modo de calcular o superávit. Realizar algumas reformas microeconômicas. Modificar as circunstâncias. As circunstâncias e a maníaca e exagerada ortodoxia do governo Lula não nos deixam alternativas no curtíssimo prazo.


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