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VINICIUS TORRES FREIRE
O nó cego da economia política
SÃO PAULO - No que depende do governo e de seus guardiães (bancos,
grande investidor), o que determina
a política econômica são as metas de
inflação e o tamanho da dívida pública, nessa ordem. Fome, emprego,
investimento em necessárias obras
públicas, nada disso importa quando
o governo avalia as medidas centrais
da política econômica.
Nenhuma avaliação correta do que
está acontecendo ou do que deveria
acontecer pode ignorar tais fatos.
O Banco Central anunciou, a quem
quiser ouvir, que cumprirá as metas
de inflação a ferro e fogo e juros e não
importa o quanto isso custe em dívida pública. Enorme, ela será abatida.
A fim de que o crescimento não seja
por demais sacrificado, deve aumentar o superávit público primário, a
economia feita pelo governo para pagar juros da dívida. São essas as circunstâncias de um país de várias distorções de mercado, dívida enorme e
economia aberta.
As metas de inflação estão definidas até o final de 2005. Bom ou ruim,
mexer nisso vai causar turbulência financeira contraproducente. Para
cumprir metas, controlar a dívida e
preparar alguma reforma da política
econômica será preciso mais superávit pelo menos até 2005. Por ora, não
dá para conter juros e fazer menos
superávit ao mesmo tempo.
Isto é, há a alternativa de detonar a
política econômica. Ignorar inflação
e dívida. A depender do tamanho do
descaso, viveríamos crise semelhante
à de 2002, quando o mercado imaginava que Lula aplicaria o programa
econômico que sempre pregou, que
redundou em dois anos de estagnação. Não dá para ter política econômica de outra cor e não enfrentar crise feia ao mesmo tempo.
Há o caminho da reforma. Não baixar as metas de inflação para 2006.
Mexer um pouco no modo de calcular o superávit. Realizar algumas reformas microeconômicas. Modificar
as circunstâncias. As circunstâncias e
a maníaca e exagerada ortodoxia do
governo Lula não nos deixam alternativas no curtíssimo prazo.
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