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TENDÊNCIAS/DEBATES
Destruição ambiental ameaça crescimento
VINOD THOMAS
As iniciativas dos países desenvolvidos continuam a ser muito importantes, mas o papel dos grandes países emergentes está crescendo
O RÁPIDO crescimento da economia mundial na última década só poderá continuar se a
destruição ambiental e as mudanças
climáticas forem revertidas. As iniciativas necessárias dos países desenvolvidos continuam a ser muito importantes, mas o papel dos grandes
países emergentes, como a China e o
Brasil, está crescendo.
Os países desenvolvidos são os
maiores responsáveis pelos elevados
níveis de emissão de gases de efeito
estufa por pessoa e deveriam, por isso, responder pela maior parte das
ações para conservar a energia e proteger o meio ambiente. No entanto, os
países de renda média já respondem
pela metade de todas as emissões no
mundo e, seguindo seus próprios interesses nacionais, não querem repetir os erros dos países ricos em seu
processo de desenvolvimento.
O recente crescimento dos países
de renda média foi excepcional. Essas
90 nações aumentaram em 4% ao ano
a sua renda per capita na última década, duas vezes mais rápido que os países de renda alta, e contribuem com
mais de um terço da produção mundial -índice que está em ascensão.
Estimulados pela globalização, esses países mais que duplicaram seu
volume de negócios e, por meio de políticas de abertura comercial, ajudaram outros a obter ganhos.
Destes, 50
têm agora acesso aos mercados de capital globais, o dobro de dez anos
atrás, e 20 são emissores de títulos
com grau de investimento. Com dois
quintos das reservas externas internacionais, essas nações impulsionaram os fluxos de capital, inclusive para países de baixa renda.
Contudo, para manter o seu desempenho, esses países precisam priorizar a conservação do meio ambiente.
Eles abrigam 60% das reservas de
água doce do mundo, 60% das florestas, a maior parte dos recifes de coral
e uma valiosa biodiversidade em sua
fauna e flora, mas enfrentam uma
imensa degradação do ar, das florestas, do solo, da água e dos recursos
marinhos que prejudica tanto a economia interna quanto a mundial.
Na China, na Índia e em outros países, a poluição do ar e da água está afetando gravemente a saúde e a produtividade da população. A degradação
do solo e o desmatamento no Brasil,
na Indonésia e em todas as regiões do
mundo estão contribuindo para o
grande aumento de enchentes e furacões, com alto custo para a sociedade.
Na bacia amazônica, a transformação
da floresta em áreas agrícolas e de
pastagem pode provocar o aumento
da temperatura, prejudicando a agricultura e as pessoas.
Além disso, a globalização agiliza a
propagação desses danos. A crescente
demanda por alimentos, fibras e madeira esgotam a pesca, os campos e as
florestas, contribuindo para a perda
irreversível da biodiversidade global.
O crescimento impulsionado por
uma indústria que consome muita
energia, pela concentração urbana e
pelo desmatamento aumentou o volume de gás carbônico na atmosfera.
As mudanças climáticas podem
erodir o litoral, provocando secas e
enchentes nos países ricos e pobres. O
número de desastres naturais -e de
vítimas- quadruplicou nos últimos
30 anos. Os danos têm crescido, sendo mais pesados para os pobres, que
vivem em geral nas regiões afetadas.
As perdas no PIB, resultantes dessas
calamidades, extrapolam o custo de
sua prevenção.
Uma ação coletiva pode trazer muitos benefícios. China, Índia, Brasil,
Rússia, México, Indonésia e África do
Sul -sete entre as 20 maiores economias- podem estabelecer uma agenda comum para o meio ambiente e
enfrentar uma parte considerável do
problema, mantendo restrito o número de países envolvidos. Agências
multilaterais, como as Nações Unidas
e o Banco Mundial, certamente prestarão assistência a essas iniciativas.
Um caminho é evitar o desmatamento. O corte de florestas é responsável por um quinto das emissões, ou
seja, volume maior que o gerado por
todos os meios de transporte. Ao protegerem suas florestas, países como
Brasil, Camarões e Indonésia reduzirão as emissões de carbono na atmosfera, possibilitando a criação de novos
mercados de permissões de emissão
comercializáveis, que os compensarão por promover a conservação.
A rapidez com que o meio ambiente
for priorizado determinará as tendências de crescimento local e global.
Os países de renda alta precisam assumir a responsabilidade pela grande
parte que lhes cabe, mas os países de
renda média, que se beneficiam da
globalização, também têm um papel a
desempenhar, em prol de seus interesses nacionais.
VINOD THOMAS, 58, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é diretor-geral do Grupo de Avaliação Independente no Banco Mundial. Foi diretor-geral
do Banco Mundial no Brasil (2001 a 2005). É autor de "O
Brasil Visto por Dentro: Desenvolvimento em uma Terra
de Contrastes".
Vthomas@worldbank.org
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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