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CLÓVIS ROSSI
Dois descasamentos e um funeral
SÃO PAULO - Falou-se muito,
desde o início da crise mal chamada
de "subprime", no "decoupling", ou
descasamento, entre as dificuldades do mundo rico e a robustez das
economias emergentes. Mas o que
ocorre, ao menos até agora, são dois
descasamentos e um funeral.
O casamento vem se dando nos
mercados financeiros: as Bolsas
caem e sobem sincronizadamente,
como prova a formidável gangorra
desta semana, que termina gloriosamente, com os mercados salvos
pelo Estado no qual quase cravaram a estaca de madeira.
Um dos descasamentos ocorre na
vida real, exatamente aquele que se
discutia. Os emergentes sofrem
menos até agora do que os ricos.
Basta citar um título perdido no pé
da página B10 desta Folha: "Crescimento da Argentina se desacelera
para 7,5%".
Quando se sabe que pelo menos
três países da Europa (Reino Unido, Alemanha e Espanha) embicam
para a recessão, um crescimento de
7,5% não deveria ser chamado de
desaceleração. Menos ainda quando se dá em um país que também
escapou da estaca de madeira brandida com sanha pelos "palpiteiros",
como o presidente Lula bem chamou as entidades financeiras que
assombravam os emergentes, mas
não foram capazes de prever o seu
próprio funeral.
Agora o mais interessante na história toda é o descasamento entre a
economia real e a economia financeira. Coloque sempre um baita
"até agora" em todas as afirmações,
caro leitor. Mas, por enquanto,
quebraram, só nos Estados Unidos,
três das cinco grandes instituições
financeiras não ligadas a bancos.
Mas não quebrou, nem nos Estados Unidos, nem em outros países,
uma Microsoft, um Wal-Mart, uma
Ford, ou General Motors, ou Volkswagen, ou Fiat.
Não quebrou nem o quitandeiro
da esquina, em Londres ou em São
Paulo. A ver quanto dura. Tomara
que para sempre.
crossi@uol.com.br
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