São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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Lenta caminhada

Estatísticas mostram avanços educacionais, mas em ritmo aquém do necessário para o país deixar a pobreza e as desigualdades para trás

Como de hábito, a Síntese de Indicadores Sociais referente ao ano de 2009, divulgada na sexta-feira pelo IBGE, traz dados positivos, que evidenciam alguns progressos do país. São, no entanto, os aspectos negativos que mais chamam a atenção, em especial pelo ritmo vagaroso com que se caminha para superá-los.
No caso da educação, área que vai se cristalizando como a de maior relevância na agenda de um Brasil que pretende deixar o subdesenvolvimento para trás, as dificuldades ainda são muitas.
Se na faixa de 6 a 14 anos um importante passo já se consolidara em meados da década de 90, quando a quase totalidade das crianças se encontrava matriculada em escolas, o quadro, no que tange aos adolescentes de 15 a 17 anos, é preocupante.
Embora a taxa de frequência tenha chegado a 85,2% nesse intervalo etário, o percentual dos jovens que estão matriculados no nível adequado à idade era de 50,9% em 2009. Acima dos 32,7% de 1999, mas ainda pífio.
Por trás desses valores observa-se o renitente efeito das disparidades regionais: o Norte e o Nordeste contavam, em 2009, respectivamente, com 39,1% e 39,2% de pessoas de 15 a 17 anos cursando escolas de nível médio. Esses percentuais, para que se tenha uma ideia, são inferiores ao verificado no Sudeste em 1999 -de 42,1%.
Assimetrias desse tipo encontram explicações em diversos fatores, mas pesam decisivamente as diferenças de rendimento familiar. De acordo com o levantamento, entre os 20% mais pobres da população, 32% dos agrupados na referida faixa de idade estavam no ensino médio no ano passado. Considerando-se apenas a fatia dos 20% mais ricos, o percentual chegava a 77,9%.
Os problemas também aparecem quando se observa a média de anos de estudo dos que têm 15 anos ou mais. Em 2009, em âmbito nacional, ela era de apenas 7,5 anos, um pouco abaixo dos 8 anos exigidos para a conclusão do ensino fundamental obrigatório. Na região mais rica, o Sudeste, estava em 8,2 anos; no Nordeste, em 6,7.
Técnicos do IBGE ouvidos pela Folha avaliam a situação educacional do país como "frágil" e consideram que a evolução é morosa por depender de políticas públicas vinculadas às diversas esferas de governo e do número de anos exigido para que os alunos terminem os diversos ciclos.
Tais ponderações só fazem reforçar a urgência de conferir à área educacional a atenção que lhe é devida como fator fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do país. Infelizmente, o Brasil não tem sido capaz de diminuir de maneira mais nítida a evasão no ensino médio, conter as taxas de repetência e ampliar como seria possível o acesso ao ensino universitário.
São falhas que certamente se refletirão no futuro. É preciso, portanto, nos diversos níveis de poder, deixar a retórica de lado e investir com vigor na qualificação dos brasileiros, o que requer, entre outras medidas, a valorização do professor e a implantação de políticas coordenadas para elevar o padrão do ensino.


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