São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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DIAS DE DECISÃO

A uma semana do pleito que vai eleger o sucessor de Fernando Henrique Cardoso -e após uma semana de campanha nas ruas, no rádio e na TV-, o quadro eleitoral permanece francamente favorável a Luiz Inácio Lula da Silva. A pesquisa Datafolha que este jornal publica hoje indica que a vantagem do petista sobre José Serra, que era de 26 pontos percentuais na semana passada, aumentou mais três pontos. Se a chance de Serra reverter o favoritismo de seu adversário já era pequena há sete dias, agora é remota.
A propaganda da chapa governista se pautou, nos últimos dias de campanha, pelos ataques sistemáticos e cada vez mais fortes a Lula e ao PT. Os serristas, de modo geral, procuraram despertar o temor na população a respeito de uma futura administração petista, atribuindo despreparo a Lula e a seu partido, sugerindo comparação entre o que ocorre na Venezuela de Hugo Chávez e o que poderia ocorrer no Brasil de Lula e criticando o petista por furtar-se aos debates diretos entre presidenciáveis.
Mas essa estratégia radical de Serra parece não ter comovido o eleitor a mudar a decisão de voto. É possível, inclusive, aventar a hipótese de que a "campanha negativa" se tenha voltado contra o próprio Serra, impedindo que o candidato governista subisse na preferência do eleitorado e, até, fazendo com que a diferença em favor de Lula aumentasse. Vale lembrar que a campanha de Lula, afora um ou outro episódio isolado, manteve-se na linha "festiva", repleta de cantigas e de imagens de confraternização e avessa a confrontos.
Parece pouco, no entanto, associar unicamente a aspectos de estratégia de campanha uma diferença em favor do petista que, se fosse traduzida em votos, estaria em torno de 27 milhões. Além disso, é bastante homogênea a liderança do petista seja em termos regionais, seja em termos socioeconômicos.
A favor de Lula, parece prevalecer um sentimento plebiscitário neste segundo turno sobre os oito anos de governo FHC -por mais que a campanha de Serra tenha lutado para evitar que o confronto ganhasse essa conotação. Como demonstram alguns resultados de uma outra pesquisa feita pelo Datafolha perscrutando a razão de voto dos eleitores no primeiro turno, é bastante provável que o público esteja enxergando o confronto entre Lula e Serra como o da mudança contra a continuidade. E a continuidade -em meio a uma drástica crise financeira- pode estar sendo duramente punida.
A popularidade de FHC continua com um desempenho relativamente bom depois de oito anos e diversas crises. Vinte e seis em cada cem eleitores consideram seu governo ótimo ou bom. Serra captura a maioria desse eleitorado satisfeito com o presidente, mas seu poder de atração cai bastante entre os 70% que consideram o governo regular, ruim ou péssimo. Há, portanto, um comportamento mais homogêneo nessa última e amplamente majoritária faixa em favor de Lula, o candidato que mais transmite a idéia de mudança.
Registre-se que essa aparente onda oposicionista, por enquanto, traduz-se apenas numa grande probabilidade de que, em janeiro, a faixa presidencial de FHC seja recebida por Lula. É preciso aguardar o veredicto das urnas depois de uma semana que contará com um debate na TV e que ainda pode reservar surpresas.



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