São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Mais um ato de covardia

Os acontecimentos em Bali significaram um duro golpe na indústria do turismo.
Bali é uma das 12 mil ilhas que formam o arquipélago da Indonésia, um dos mais belos lugares do mundo, com clima tropical, inúmeras atrações culturais e, sobretudo, um dos mais sossegados locais para quem procura beleza e descanso.
O golpe aplicado pelos terroristas na semana passada matou 180 pessoas e feriu mais de 200 -todos inocentes- ao explodir uma casa noturna onde se dança o "barong", uma expressiva mistura de religião e folclore.
O atentado foi um recado direto para a indústria do turismo, uma das mais promissoras em termos de geração de renda e emprego. Segundo a Organização Mundial do Turismo, nos últimos 50 anos, o número de pessoas que viajaram por lazer e descanso aumentou 28 vezes, tendo atingido a marca de 698 milhões no ano 2000. A receita gerada com os turistas teve um crescimento 35% superior ao crescimento da economia como um todo. Hoje em dia, o turismo gera US$ 5 trilhões anuais, aproximadamente 10% do PIB mundial, e emprega cerca de 300 milhões de pessoas.
Ao atacar a ilha de Bali, os terroristas buscaram simbolizar o que realmente pretendem, ou seja, assustar os turistas do mundo inteiro e, com isso, afetar os negócios e os empregos de milhões de pessoas. O desastre provocado em Bali foi muito além do alvo atingido. Levará algum tempo até que a atividade turística naquele local retome o seu nível normal -lembrando que, até hoje, Nova York recebe muito menos visitantes do que recebia antes do fatídico 11 de setembro de 2001.
O Brasil tem uma enorme potencialidade no campo do turismo. No entanto estamos em 29º lugar no ranking global. O número de visitantes estrangeiros tem ficado em torno de míseros 5 milhões de pessoas por ano, enquanto a França recebe 75 milhões, a Espanha, 52 milhões e os Estados Unidos, 48 milhões.
É claro que um ataque desse tipo é imprevisível e, ainda que indiretamente, acaba afetando o fluxo de estrangeiros para o Brasil. A luta contra o terrorismo é uma tarefa de todos, até mesmo de nós, brasileiros. Mas o mais triste é verificar que problemas administráveis nacionalmente acabam se tornando um espantalho ao turismo no Brasil. Esse é o caso da ousadia de presidiários e de traficantes no Rio de Janeiro -uma das mais belas cidades do planeta.
Neste momento difícil da vida nacional, o turismo constitui uma alternativa produtiva, pois o setor pode gerar um grande número de empregos decorrente de investimentos caros, mas que foram realizados ao longo dos últimos 20 anos. O que se necessita, agora, é treinar a mão-de-obra para saber receber os turistas com cordialidade, educação, informações adequadas e em língua inteligível. Ademais, não se pode prolongar indefinidamente o estado de intranquilidade que domina as cidades mais turísticas do Brasil a começar pelo Rio de Janeiro.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tanto faz
Próximo Texto: Frases


Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.