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ALIANÇAS HETERODOXAS
Enquanto o ex-prefeito Paulo
Maluf vai sendo processado sob
acusação de improbidade administrativa e evasão de divisas, a prefeita
Marta Suplicy concentra seus ataques em Gilberto Kassab (PFL-SP),
candidato a vice da chapa do tucano
José Serra na disputa pela Prefeitura
de São Paulo. A propaganda petista
insiste na associação entre Kassab e
o ex-prefeito Celso Pitta, de quem o
político do PFL foi "poderoso" secretário e "braço direito".
A estratégia, cujos resultados até
aqui parecem parcos, faria mais sentido se o próprio Maluf, padrinho
político de Pitta, não tivesse declarado seu apoio à prefeita, na seqüência
de entendimentos travados nos bastidores com o PT. Não é demais relembrar que outra importante peça
na construção do engodo que acabou por suceder Maluf na prefeitura
no período 1997-2000, como já observou o candidato Serra, foi o publicitário Duda Mendonça, hoje responsável pela campanha petista.
Nada disso, por certo, faz de Kassab um vice melhor, nem deixa o
candidato tucano e seu partido a salvo de críticas. Também o PSDB cortejou Maluf durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso, e a
candidatura Serra, que segundo as
pesquisas é a principal herdeira dos
votos malufistas, já havia dado sinais
de que acolheria de bom grado um
eventual apoio do ex-prefeito no segundo turno. As acusações, portanto, de ambas as partes, em torno de
relações com Maluf e Pitta, não
transcendem o terreno do marketing
e da hipocrisia eleitoral.
O que chama a atenção e desperta
apreensões é o fato de que alianças e
apoios pouco convencionais, como
no caso de Marta e Maluf, não são exclusividade paulistana, mas uma característica de diversos outros pleitos
municipais e da política federal.
A novidade, quanto a isso, é que o
PT se tornou um grande artífice desse emaranhado político ao trocar de
modo abrupto a sua antiga cautela
na escolha de aliados e apoios por
um realismo desenfreado, que não
faz restrições nem a adversários históricos e lança mão do fisiologismo
com despudorada desenvoltura.
O petismo, em sua ânsia de ocupação política e na persistente tentativa
de exercer amplo controle sobre os
instrumentos de poder ligados à máquina pública, não hesita em atirar
no lixo preocupações que pareciam
corresponder a princípios sólidos,
mas que, vistas em perspectiva, podem ser consideradas meramente
"táticas", ou seja, como algo de interesse transitório com vistas a criar
uma imagem diferenciada e acumular forças para atingir o objetivo "estratégico" de conquistar o governo
federal e tentar consolidar-se como
partido hegemônico.
Se o PT, desde sua fundação, constituiu-se num dos principais responsáveis pela saudável introdução de
diretrizes mais rigorosas e coerentes
na política brasileira, sua recente ascensão ao Planalto vai tratando de
desmoralizar o esforço anterior e de
borrar ainda mais o já pouco definido espectro partidário do país -o
que só pode ser visto como um lamentável retrocesso.
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