São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Embora não fosse esperada, uma redução mais expressiva da taxa básica de juros teria sido plenamente justificada

NÃO CAUSOU nenhuma surpresa a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), anunciada na quarta-feira, de reduzir a taxa de juros básica em meio ponto percentual, para 13,75% ao ano. Era praticamente consensual, entre os analistas econômicos, a avaliação de que a autoridade monetária optaria por manter o ritmo de redução de juros que vem implementando desde o final de maio.
A decisão conduziu a taxa Selic a um nível nominal ineditamente baixo e, no entanto, compreensivelmente, não suscitou reações de entusiasmo da parte do setor produtivo.
Embora não fosse esperada, uma decisão menos conservadora teria sido plenamente justificada, do ponto de vista técnico. Desde a reunião anterior do Copom, no final de agosto, observou-se expressiva redução da inflação projetada por bancos e consultorias -uma redução de intensidade similar à do corte da Selic, a qual, portanto, manteve-se praticamente inalterada em termos reais. Para além dessa taxa definida pelo BC, também a taxa de juros de mercado mudou muito pouco: o índice embutido nas operações de "swap" de 360 dias, descontada a inflação esperada pelo mercado, passou de 9,0% ao ano, no primeiro dia após a reunião de agosto do Copom, para 8,9% ontem.
Vários elementos indicavam a viabilidade e a conveniência de promover uma redução relevante do nível real da taxa básica de juros. A inflação caminha para fechar o ano de 2006 perto do limite inferior admitido pela política de metas (que é uma taxa dois pontos percentuais abaixo da meta central de 4,5%), e as expectativas do mercado para 2007 se situam cada vez mais abaixo da meta (também de 4,5%).
Ao lado disso, os sinais de perda de dinamismo da atividade produtiva se acumulam. A alta que o mercado espera para o PIB no ano corrente diminuiu de 3,5% para 3% entre as duas mais recentes reuniões do Copom. As projeções de crescimento para 2007 também perdem força.
Os dados relativos ao desempenho da indústria indicam que o efeito corrosivo da apreciação do câmbio sobre a competitividade e o dinamismo da economia segue seu curso silencioso, mas inexorável. Em diversos setores a produção continua a regredir, sobretudo naqueles para os quais foi maior a perda de rentabilidade nas exportações.
Enquanto isso, a tendência de apreciação do real ganha força. É notório que o diferencial ainda muito alto entre os juros no Brasil e no exterior constitui um dos vetores que contribuem para a renovação dessa tendência, que tem levado o BC a comprar grande volume de dólares no mercado, a um custo ponderável. Tal custo é dado pela diferença entre a remuneração que o BC obtém ao aplicar as reservas e o dispêndio em que o setor público incorre ao pagar juros sobre os títulos de dívida interna contraída para anular a expansão monetária produzida pela aquisição dos dólares. Mais uma razão pela qual uma redução mais expressiva dos juros teria sido preferível.


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