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Pouco
Embora não fosse esperada, uma redução mais expressiva da taxa básica de juros teria sido plenamente justificada
NÃO CAUSOU nenhuma
surpresa a decisão do
Comitê de Política
Monetária (Copom)
do Banco Central (BC), anunciada na quarta-feira, de reduzir a
taxa de juros básica em meio
ponto percentual, para 13,75%
ao ano. Era praticamente consensual, entre os analistas econômicos, a avaliação de que a autoridade monetária optaria por
manter o ritmo de redução de juros que vem implementando
desde o final de maio.
A decisão conduziu a taxa Selic
a um nível nominal ineditamente baixo e, no entanto, compreensivelmente, não suscitou
reações de entusiasmo da parte
do setor produtivo.
Embora não fosse esperada,
uma decisão menos conservadora teria sido plenamente justificada, do ponto de vista técnico.
Desde a reunião anterior do Copom, no final de agosto, observou-se expressiva redução da inflação projetada por bancos e
consultorias -uma redução de
intensidade similar à do corte da
Selic, a qual, portanto, manteve-se praticamente inalterada em
termos reais. Para além dessa taxa definida pelo BC, também a
taxa de juros de mercado mudou
muito pouco: o índice embutido
nas operações de "swap" de 360
dias, descontada a inflação esperada pelo mercado, passou de
9,0% ao ano, no primeiro dia
após a reunião de agosto do Copom, para 8,9% ontem.
Vários elementos indicavam a
viabilidade e a conveniência de
promover uma redução relevante do nível real da taxa básica de
juros. A inflação caminha para
fechar o ano de 2006 perto do limite inferior admitido pela política de metas (que é uma taxa
dois pontos percentuais abaixo
da meta central de 4,5%), e as expectativas do mercado para 2007
se situam cada vez mais abaixo
da meta (também de 4,5%).
Ao lado disso, os sinais de perda de dinamismo da atividade
produtiva se acumulam. A alta
que o mercado espera para o PIB
no ano corrente diminuiu de
3,5% para 3% entre as duas mais
recentes reuniões do Copom. As
projeções de crescimento para
2007 também perdem força.
Os dados relativos ao desempenho da indústria indicam que
o efeito corrosivo da apreciação
do câmbio sobre a competitividade e o dinamismo da economia
segue seu curso silencioso, mas
inexorável. Em diversos setores
a produção continua a regredir,
sobretudo naqueles para os
quais foi maior a perda de rentabilidade nas exportações.
Enquanto isso, a tendência de
apreciação do real ganha força. É
notório que o diferencial ainda
muito alto entre os juros no Brasil e no exterior constitui um dos
vetores que contribuem para a
renovação dessa tendência, que
tem levado o BC a comprar grande volume de dólares no mercado, a um custo ponderável. Tal
custo é dado pela diferença entre
a remuneração que o BC obtém
ao aplicar as reservas e o dispêndio em que o setor público incorre ao pagar juros sobre os títulos
de dívida interna contraída para
anular a expansão monetária
produzida pela aquisição dos dólares. Mais uma razão pela qual
uma redução mais expressiva
dos juros teria sido preferível.
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