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Espaço ameaçado
DIVULGADA EM surdina no
dia 6, a nova política nacional de espaço dos Estados Unidos, ainda que previsível,
suscita alguma estranheza. Numa administração marcada pela
sombra do 11 de Setembro, ela foi
empregada por George W. Bush
como mais uma demonstração
de unilateralidade e nova ameaça de uso da força na defesa daquilo que eleger como risco a interesses estratégicos de seu país.
O documento, publicado mais
de um mês após ser aprovado por
Bush, ressuscita aspectos da
doutrina de militarização do espaço sideral. Esta vinha perdendo importância desde a década
de 1980, sob Ronald Reagan, com
o fantasioso programa apelidado
de "Guerra nas Estrelas".
A política de Bush recusa toda
e qualquer "limitação do direito
fundamental dos Estados Unidos de operar e adquirir informação no espaço". Alerta, ainda,
que os EUA negarão a adversários, se assim tiverem por necessário, atividades espaciais interpretadas como hostis a interesses americanos.
São palavras bastantes para
que mesmo o mau entendedor se
acautele. O que causa espanto é
seu caráter extemporâneo. Não
há potência militar ou tecnológica à vista capaz de ameaçar o predomínio americano no setor, como a União Soviética dos idos da
Guerra Fria. Sucessos recentes
da China com seu programa tripulado não se encaixam em absoluto no perfil de "hostilidade",
não no presente, nem tampouco
no futuro previsível.
Ademais, até o capim de Cabo
Cañaveral sabe que as ameaças
atuais e reais aos EUA não procedem do espaço, mas de regiões
do globo terrestre em que a alta
tecnologia é arma fora de alcance
e de todo prescindível. O melhor
modelo para o espaço, assim como adotado com sucesso para a
Antártida e a própria Estação Espacial, é nutrir a colaboração internacional com fins pacíficos.
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