São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Espaço ameaçado

DIVULGADA EM surdina no dia 6, a nova política nacional de espaço dos Estados Unidos, ainda que previsível, suscita alguma estranheza. Numa administração marcada pela sombra do 11 de Setembro, ela foi empregada por George W. Bush como mais uma demonstração de unilateralidade e nova ameaça de uso da força na defesa daquilo que eleger como risco a interesses estratégicos de seu país.
O documento, publicado mais de um mês após ser aprovado por Bush, ressuscita aspectos da doutrina de militarização do espaço sideral. Esta vinha perdendo importância desde a década de 1980, sob Ronald Reagan, com o fantasioso programa apelidado de "Guerra nas Estrelas".
A política de Bush recusa toda e qualquer "limitação do direito fundamental dos Estados Unidos de operar e adquirir informação no espaço". Alerta, ainda, que os EUA negarão a adversários, se assim tiverem por necessário, atividades espaciais interpretadas como hostis a interesses americanos.
São palavras bastantes para que mesmo o mau entendedor se acautele. O que causa espanto é seu caráter extemporâneo. Não há potência militar ou tecnológica à vista capaz de ameaçar o predomínio americano no setor, como a União Soviética dos idos da Guerra Fria. Sucessos recentes da China com seu programa tripulado não se encaixam em absoluto no perfil de "hostilidade", não no presente, nem tampouco no futuro previsível.
Ademais, até o capim de Cabo Cañaveral sabe que as ameaças atuais e reais aos EUA não procedem do espaço, mas de regiões do globo terrestre em que a alta tecnologia é arma fora de alcance e de todo prescindível. O melhor modelo para o espaço, assim como adotado com sucesso para a Antártida e a própria Estação Espacial, é nutrir a colaboração internacional com fins pacíficos.


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