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NELSON MOTTA
O exato momento
RIO DE JANEIRO - "Conversa na
Catedral", romance do peruano
Mario Vargas Llosa, se passa no governo liberal de Belaúnde Terry, na
ditadura militar esquerdista de Velasco Alvarado, no terror do Sendero Luminoso e na tragédia populista de Alan García, que quebrou o
Peru e gerou Fujimori. Ao longo da
história, ele repete muitas vezes a
pergunta-chave: "Em que exato
momento o Peru se f.... ?".
No caso do Brasil, quanto mais o
tempo passa e as paixões esfriam,
mais ele indica a eleição de Jânio
Quadros e sua renúncia oito meses
depois, que deu em Jango, no parlamentarismo de araque, no golpe de
64 e chegou a Sarney e à moratória
e ao fundo do poço com Collor.
JK era moderno, liberal, audacioso e progressista, Jânio era o contrário disso tudo. A oposição a JK,
que acabou elegendo o demagogo e
populista JQ, centrava seu fogo na
"corrupção" do governo, dos amigos do presidente e do próprio presidente. Nem era tão importante e
nem tão verdadeiro, mas uma arma
na luta pelo poder.
A herança maldita de JK não foi
um "mar de lama", mas um alto preço a pagar pelo desenvolvimentismo "no limite da irresponsabilidade": o dragão da inflação. Mas foi o
moralismo udenista que derrotou
JK e seu candidato, o marechal
Lott, um chuchu severo e legalista.
Se tivesse vencido, equilibrado as
contas públicas...
Quanto ao Rio de Janeiro, Vargas
Llosa teria mais facilidade em localizar o exato momento, que são
dois: em 1960, quando a capital mudou para Brasília, e em 1976, na ditadura, quando a Cidade Maravilhosa se fundiu à força com o Estado do Rio, criando o monstrengo
político que nasce no populismo getulista, cresce no clientelismo chaguista e nas incompetências brizolistas e acaba no provincianismo assistencialista garotista.
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