São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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NELSON MOTTA

O exato momento

RIO DE JANEIRO - "Conversa na Catedral", romance do peruano Mario Vargas Llosa, se passa no governo liberal de Belaúnde Terry, na ditadura militar esquerdista de Velasco Alvarado, no terror do Sendero Luminoso e na tragédia populista de Alan García, que quebrou o Peru e gerou Fujimori. Ao longo da história, ele repete muitas vezes a pergunta-chave: "Em que exato momento o Peru se f.... ?".
No caso do Brasil, quanto mais o tempo passa e as paixões esfriam, mais ele indica a eleição de Jânio Quadros e sua renúncia oito meses depois, que deu em Jango, no parlamentarismo de araque, no golpe de 64 e chegou a Sarney e à moratória e ao fundo do poço com Collor.
JK era moderno, liberal, audacioso e progressista, Jânio era o contrário disso tudo. A oposição a JK, que acabou elegendo o demagogo e populista JQ, centrava seu fogo na "corrupção" do governo, dos amigos do presidente e do próprio presidente. Nem era tão importante e nem tão verdadeiro, mas uma arma na luta pelo poder.
A herança maldita de JK não foi um "mar de lama", mas um alto preço a pagar pelo desenvolvimentismo "no limite da irresponsabilidade": o dragão da inflação. Mas foi o moralismo udenista que derrotou JK e seu candidato, o marechal Lott, um chuchu severo e legalista. Se tivesse vencido, equilibrado as contas públicas...
Quanto ao Rio de Janeiro, Vargas Llosa teria mais facilidade em localizar o exato momento, que são dois: em 1960, quando a capital mudou para Brasília, e em 1976, na ditadura, quando a Cidade Maravilhosa se fundiu à força com o Estado do Rio, criando o monstrengo político que nasce no populismo getulista, cresce no clientelismo chaguista e nas incompetências brizolistas e acaba no provincianismo assistencialista garotista.


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